“É interessante notar a diferença entre os sabores de um produto convencional, cultivado com fertilizantes sintéticos e tratado com agrotóxicos, e um orgânico.”

Estava eu pensando no tema do meu próximo artigo para a Organis (que, afinal, é este) e perguntei à minha mulher, Tetê: 
– Por que você consome orgânicos?
– Pelo sabor, respondeu. Pela saúde também, é claro, mas principalmente pelo sabor, completou.

Dias depois, assistindo a um programa de televisão sobre feiras orgânicas, coincidentemente foi feita a mesma pergunta a um consumidor e ele respondeu: “Pelo sabor”. E continuou: “eu só fui descobrir o real sabor do morango quando passei a consumir morango orgânico; é gritante a diferença”.

É interessante notar a diferença entre os sabores de um produto convencional, cultivado com fertilizantes sintéticos e tratado com agrotóxicos, e um orgânico. Essa diferença é mais notada em determinados produtos, como frutas, tomate, cenoura, rúcula.

A cenoura, por exemplo, é levemente adocicada, mais perfumada e mais crocante; o tomate, menos ácido e com textura mais firme, menos poroso e um pouco mais adocicado também. Nas frutas, também é marcante a diferença de sabores. No morango, na banana, na manga, apenas pra citar essas três, dá para notar que são bem mais doces.

Na pesquisa “Panorama do consumo de orgânicos no Brasil 2019”, apresentada pela Organis ano passado, a saúde é o principal motivo (84%) que leva uma pessoa a consumir orgânicos. Em segundo lugar, com 30% estão as “características do produto”. Será que o sabor se encaixa nesse item? Pode ser.

Uma vez, há alguns anos, visitei um grande produtor de mangas em Petrolina (PE). Cheguei lá e a primeira coisa que eu vi foi a aplicação de agrotóxicos.

Ainda “de vez”, as mangas iam para um imenso depósito, que mais parecia uma indústria, onde eram colocadas em um grande tanque, numa solução de água com não sei o quê, a uma determinada temperatura, para “dar uma amadurecida”, eliminar bactérias e os resíduos de agrotóxicos. Pode uma manga dessas ter o mesmo sabor de uma outra cultivada de maneira agroecológica?

É mais ou menos a mesma diferença entre um frango caipira e um criado nessas gigantescas granjas industriais. São sabores completamente diferentes. No ovo, a mesma coisa. Aqui em casa consumimos, já há bastante tempo, ovos caipira e/ou orgânicos. São sabores muito diversos, podem acreditar.

Por princípio, alimentos cultivados à base de agrotóxicos podem sofrer alterações de sabor, já que substâncias características do sabor são reduzidas pelo uso de fertilizantes à base de nitrogênio.

Além disso, como absorvem menos água – pela ausência de fertilizantes sintéticos – os orgânicos duram mais. Experimente colocar algumas bananas – ainda “de vez” – “convencionais” e orgânicas lado a lado e veja qual vai durar mais. E a questão é simples: nas bananas convencionais usam-se substâncias químicas para o amadurecimento, que continuam agindo mesmo depois de a fruta ter sido retirada do pé.

A água pode ajudar a aumentar, por exemplo, o tamanho do morango, mas certamente sua polpa fica menos saborosa.

Leio no site da revista Women’s Health que, de acordo com um estudo da Abertay University (Escócia), é a satisfação moral que faz com que a percepção do sabor mude.

O gosto pode não ter nenhuma diferença significativa, mas as evidências de que os alimentos orgânicos são mais saudáveis e nutritivos instigam nosso cérebro a acreditar que eles são mais saborosos.

Ora, se é o meu cérebro (que é o órgão que comanda todo o nosso organismo) que diz que o alimento orgânico é mais saboroso que o dito convencional, sigo o que indica o meu cérebro.

E tem mais: pesquisas à parte, acredito firmemente que o produto orgânico é mais saboroso sim.

E estamos conversados.

Chico Junior
Jornalista, escritor, autor dos livros “Roteiros do Sabor Brasileiro”, “Roteiros do Sabor do Estado do Rio de Janeiro” e “Na boca do estômago – Uma viagem ao prazer de cozinhar e comer”
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