Um aspecto raramente focalizado nas discussões sobre a agricultura ecológica é a mudança dos padrões de consumo que foi induzida pela era dos agroquímicos. O arsenal de artifícios, que há pelo menos 50* anos se instalou no mundo e há 30* anos no Brasil, permitiu o cultivo e o consumo de produtos fora das regiões e das épocas mais propícias à sua produção.
Dessa maneira, a sazonalidade e a regionalidade que haviam marcado a alimentação humana desde os tempos mais remotos foram se desbotando, gerando algo que nos meios gastronômicos é conhecido como comida internacional. Pejorativamente, essa cozinha pode ser caracterizada pela descaracterização. Não pertence a lugar nenhum, não tem sabor de coisa alguma, enche o estômago, mas não alimenta a alma do contexto de aromas, de história, de vínculo com o meio ambiente. Enche o estômago, mas a alma percebe o seu vazio.
As dietas baseadas na era dos agrotóxicos são muito características nas grandes cidades do Brasil, e se assemelham àquelas criadas em outras regiões do mundo com o mesmo arsenal. A dona de casa vai à feira 52 semanas por ano, para fazer a mesma compra de batatinha, tomate, alface e cenoura. Um encaixe ecologicamente sadio com o meio ambiente não permite essa monotonia. A natureza apresenta regionalização ao largo do espaço geográfico e sazonalidade ao longo do tempo. As implicações de tais dietas serão discutidas mais adiante.
Até esse ponto, importa ressaltar que o desenvolvimento pleno de uma proposta ecológica em nível planetário está a exigir um grande esforço de reeducação alimentar, para o qual uma considerável parte parece ser reservada ao movimento orgânico.