“Segundo o MAPA, o país conta com cerca de 16.000 produtores orgânicos cadastrados, número crescente a cada ano.”

Não temos dúvida de que o mercado de produtos orgânicos e sustentáveis vem crescendo conseguindo vencer a forte crise que passamos neste momento e, a cada dia, mais empreendedores investem no segmento, se capacitando, certificando e procurando saber como participar do mercado que mais cresce no mundo.

O mais recente episódio aconteceu há pouco menos de um mês, quando o gigante do mercado virtual, Amazon, comprou a maior rede de varejo de produtos orgânicos e natural, a Whole Foods Market. O que temos de aprender com isso? Tem muito mercado para explorar.

Acompanhamos a realização da principal feira do setor e a única na América Latina, a Bio Brasil Fair │Biofach America Latina, em junho 2017 no Pavilhão da Bienal de SP, que reuniu quase 420 expositores, mais de 25.000 visitantes, expositores de outros sete países, com crescimento na ordem de 35% comparando-se com a edição do ano passado.

Vivemos hoje tempos de transformação e sabemos que os Estados Unidos, o maior mercado de orgânicos do mundo, têm atingido faturamento significativo, e no ano passado, segundo a Organic Trade Association, o valor de faturamento atingiu a marca de US$ 50 Bilhões de dólares. Neste processo, os consumidores seguem a tendência de melhorar seus hábitos e buscam produtos menos industrializados, mais saudáveis, com menos aditivos e conservantes e com rastreabilidade.

É possível prever um crescimento maior e a mudança dos hábitos, pois os indicadores apontam que, no mercado americano: 82% das famílias americanas consumiram orgânicos no último ano, 14% de todas as frutas e vegetais consumidos no mercado já são orgânicos, 5% de todos os produtos lácteos são orgânicos e 75% de todos os produtos encontrados hoje no mercado já têm sua versão orgânica.

No lado da produção, está comprovado que o retorno de produtores orgânicos é 33% acima dos produtores convencionais e a contribuição adicional, na renda anual de quem atua na cadeira, atinge em média US$2.000 a mais de quem atua na cadeia apenas com produtos convencionais.

Multinacionais de alimentos e agronegócios no mundo estão fazendo pesquisas e estudando o segmento e, nos mercados no exterior, poucas têm criado marcas próprias e a grande maioria busca comprar marcas existentes para não ficar fora deste mercado. Aqui no Brasil, não é diferente e observamos que ainda estamos na fase inicial deste movimento.  Sabemos que, com a globalização, a tendência é que o movimento chegará com força.

Cabe saber quem serão os pioneiros neste processo aqui no Brasil. O que podemos dizer destes números? Como podemos nos preparar para atender a forte demanda do consumidor com produtos mais saudáveis, mais confiáveis, mais seguros e com rastreabilidade?

O Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (ORGANIS) realizou, no período de março a abril, a primeira pesquisa nacional para conhecer o perfil do consumidor brasileiro de orgânicos, o que realmente conhecem e entendem sobre esses produtos. O resultado foi surpreendente e nos dá a indicação de que estamos ainda no inicio de um processo de consolidação e o crescimento se fortalecerá nos próximos anos.

O principal apontamento foi que 15% consumiram produtos orgânicos, sendo o maior índice para a região sul (34%) em contraste com os moradores da região sudeste, que obtiveram o menor índice com pouco mais de 10% dos domicílios. Outros indicativos interessantes: seis em cada 10 famílias consumiram verduras e uma em cada quatro consumiu frutas e cereais.
Outro número muito surpreendente é que 84% dos consumidores não conseguiram lembrar da marca do produto que consumiu.

A pesquisa apontou um preocupante desconhecimento por parte do consumidor sobre o produto e sua verificação. A grande maioria ainda associa o produto orgânico apenas com a questão de produto sem agrotóxicos ou químicos, ainda não conhece a regulamentação e, em muitos casos, confia na palavra de quem comercializa ou quem apresenta o produto.

Isso tem um lado positivo, pois demonstra que a indicação pessoal é muito forte e representativa, mas preocupante, pois não reconhecer um produto orgânico, propicia oportunidades para fraudes e oportunistas. Pouco mais de 45% lembram ter visto o selo oficial do MAPA e apenas 8% afirmaram que utilizaram o selo como verificador de conformidade e credibilidade.

Estas informações indicam que as empresas têm um vasto mercado e oportunidades para trabalhar os brandings dos produtos, num mercado em pleno crescimento.

Quais os motivos para 85% da população não consumir orgânicos? 41% apontam o preço como fator determinante, os demais alegaram desconhecimento, falta de interesse e falta de local para compra.

Este resultado demonstra que falta ainda uma campanha nacional ou um projeto de educação para esclarecer o consumidor, melhor distribuição e oferta de produtos. O varejo tenta ser este veículo com o consumidor final, na medida em que lojas menores fazem um atendimento mais personalizado, potencializando o processo de educação e fidelização com os consumidores.

Temos um mercado para pensar como inserir a produção local, extrativista e familiar dentro de um modelo sustentável, em que o consumidor possa reconhecer seus valores, com a oportunidade de trabalhar a construção de valor na cadeia e o processo de industrialização dentro das condições e regulações de certificação. Segundo o MAPA, o país conta com cerca de 16.000 produtores orgânicos cadastrados, número crescente a cada ano.

Para chegar um dia aos números dos Estados Unidos, precisamos conscientizar e educar o consumidor, valorizar o trabalho local e garantir a segurança dos produtos. O tamanho do potencial do mercado de orgânicos no Brasil é de 207 milhões de habitantes, afinal não dependemos de importação de insumos e tecnologia, pois temos tudo aqui no nosso quintal.

Ming Liu
Organis – Diretor Executivo

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