“Um produto orgânico é resultado de práticas que respeitam o meio ambiente, preservam os valores nutricionais dos alimentos, valorizam a saúde de quem produz e geram impactos sociais positivos.”

Enquanto enchemos nossas cestas de compras com produtos que pescamos nas gôndolas – alguns escolhidos a dedo com muito critério e atenção, outros de forma um tanto distraída – a indústria da alimentação se move silenciosa nos bastidores para aproveitar todas as oportunidades que consegue enxergar. Seremos mais alguns bilhões de bocas em duas ou três décadas e precisaremos todos ser alimentados. Há muito trabalho a ser feito!

Há várias apostas sobre como será a nossa comida do futuro: carne produzida artificialmente em laboratório, pizzas assadas em impressoras 3D, alimentos ultrafuncionais… Nada que hoje nos pareça muito apetitoso. Mas há um detalhe que, para prever, ninguém precisa de bola de cristal. Seja qual for a natureza dessa comida do futuro, os ingredientes usados no seu preparo terão que estar em absoluta sintonia com aquela característica humana que nos reúne ao redor de uma mesa: a afetividade.

A indústria da alimentação sabe muito bem disso, por isso trabalha na criação de marcas que comunicam afetividade e que têm a função de nos conectar à personalidade e aos atributos do produto. Hoje em dia, praticamente não consumimos alimentos: consumimos marcas!

Outra forma de comunicar afetividade é agregando ao produto alguns valores que vão muito além das tabelas nutricionais. Qualidade é o principal deles, pois é percebido universalmente como um diferencial determinante. Mas há outros valores que precisam ser priorizados, de acordo com os diferentes nichos a serem atendidos: saúde, segurança alimentar, funcionalidade, praticidade, preço, e tantos outros.

Nessa escala de valores, a palavra “orgânico” recentemente subiu ao pódio e parece que está prestes a ganhar status semelhante ao da palavra “qualidade”. Ser orgânico significa muito hoje em dia – para alguns nichos de mercado está se tornando praticamente um imperativo. Não é para menos! O consumidor já começa a entender que um produto orgânico é resultado de práticas que respeitam o meio ambiente, preservam os valores nutricionais dos alimentos, valorizam a saúde de quem produz e geram impactos sociais positivos. Além disso, trazem a garantia de rastreabilidade e a possibilidade de servir bem-estar na mesa da família.

Para o consumidor consciente, ser orgânico agrega um valor perceptível e mensurável. Muitos estão dispostos a pagar pelos benefícios à saúde, à sociedade e ao planeta. Mas que não se iludam os apressados: o consumidor está mais bem informado e mais esperto. Sabe muito bem a diferença entre aquilo que é orgânico e o que é vendido como “natural”. A escala de valores está clara: um ingrediente natural necessariamente não é um ingrediente orgânico! A presença de ingredientes orgânicos e naturais necessariamente não asseguram a qualidade de um produto! É preciso transparência!

A cadeia produtiva dos orgânicos e sustentáveis vem, ao longo dos últimos anos, caminhando a passos ritmados rumo a uma profissionalização do setor. A oferta de orgânicos, tanto na forma de produtos acabados e processados como na forma de ingredientes para a nossa indústria, vem crescendo surpreendentemente. Uma rápida busca no website do Organis mostra mais de mil produtos ofertados pelos associados. E esse número aumenta a cada dia.

O próximo passo, ao que tudo indica, é o ingresso do varejo nessa equação. Para atender a demanda de consumidores cada vez mais conscientes, o varejo precisa de fornecedores mais profissionalizados e dedicados a garantir um abastecimento regular de produtos orgânicos. A indústria da alimentação, que disputa os valiosos espaços no varejo, buscam diferenciais para seus produtos como forma de alcançar e fidelizar aqueles consumidores dispostos a pagar mais por produtos que agreguem valor ao meio ambiente e à saúde.

Sejam quais forem as previsões para o futuro, há uma realidade na qual podemos apostar: teremos um Brasil cada vez mais orgânico e sustentável. É claro que a causa dos orgânico é uma construção que leva tempo. Ainda há muito o que consolidar, e isso não será feito da noite para o dia. Precisamos levar mais informações ao consumidor final e estabelecer canais de comunicação mais eficientes na área do B2B. Precisamos unir a cadeia produtiva dos orgânicos e sustentáveis e aproveitar as múltiplas oportunidades que teremos pela frente.

Para qualquer consumidor, um bom produto começa por um bom ingrediente. Para a indústria da alimentação, investir em ingredientes orgânicos é um diferencial competitivo que ganha visibilidade. Para o varejo, fidelizar consumidores qualificados é uma estratégia que garante sobrevivência. Os orgânicos e sustentáveis já entenderam essa lógica e estão trabalhando organizadamente.

Sabemos que quando o assunto é alimento, a palavra diversidade ganha um peso astronômico! Gosto pessoal, paladar seletivo, predisposição cultural, poder aquisitivo, recomendações médicas, atitude comportamental, estilo de vida e até mesmo a consciência ecológica, são todos fatores decisivos na decisão de consumo. E geram incontáveis nichos de mercado. No futuro, as oportunidades continuarão a se propagar por nichos e os ingredientes orgânicos terão lugar de destaque em muitos deles.

Fabio Belik
Organis – Projetos Especiais

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