“Me chamou atenção, em primeiro lugar, a diversidade dos públicos interessados em orgânicos, um número muito expressivo de consumidores, profissionais da área de saúde, principalmente nutricionistas, agentes de políticas públicas e, sobretudo, lojistas, tanto do pequeno quanto do grande varejo.”

Os fãs de histórias em quadrinhos devem lembrar daquela clássica série de álbuns de René Goscinny e Albert Uderzo, que se passa em uma pequena aldeia gaulesa, a única ainda não ocupada pelos romanos. Naquele ponto do mapa, cercados de tropas de todos os lados, Asterix, Obelix e seus amigos resistem, sem perder a cultura própria e o bom humor, aos avanços do maior império de todos os tempos. Na recente edição da BioBrazil/NaturalTech, vendo a proporção do espaço ocupado pelos orgânicos em relação aos demais setores e observando a valente presença dos seus empreendedores, me veio a ideia de que temos muito de Asterix, com a diferença que nossa aldeia no mercado não apenas vem mantendo seu território, mas consegue a proeza de crescer um pouco todos os dias. Sim, amigos, estamos expandindo nossas fronteiras. Percebemos claramente o aumento do interesse do público, gente de todas as idades, muitos jovens se encantando com a possibilidade de um consumo melhor para si, para a sociedade e para o mundo.

Entre as conquistas da BioBrazil 2024, vale destacar que a Organis fortaleceu e estreitou relações com o Sebrae Nacional, a SP Negócios, o Prochile, AOA Chile e outras entidades que certamente esperamos brevemente reverter em benefícios práticos e diretos para o nosso setor no Brasil e no mundo. Fora essas importantes relações institucionais e operacionais, a feira mostrou sua força como impulsionadora de negócios. Me chamou atenção, em primeiro lugar, a diversidade dos públicos interessados em orgânicos, um número muito expressivo de consumidores, profissionais da área de saúde, principalmente nutricionistas, agentes de políticas públicas e, sobretudo, lojistas, tanto do pequeno quanto do grande varejo. Melhor que isso, percebemos nas conversas com os comerciantes que eles já enxergam em suas bases de mercado a força dessa tendência e não querem ficar de fora. Chamou a atenção a quantidade de sacolas cheias de produtos que os lojistas e os consumidores levaram para casa, o que só confirma a demanda por orgânicos, naturais e saudáveis. 

Mas, antes de seguir com meus breves comentários sobre a feira e seus significados, me permitam fazer uma pausa para comemorar, aproveitando que estamos em ano de Jogos Olímpicos. Saímos do evento com muitas taças e medalhas. Isso mesmo, diversos expositores associados Organis, a aldeia gaulesa dos orgânicos certificados, foram premiados no Award 2024 BioBrazil Fair. Na categoria Alimentos a Sahi ganhou o terceiro lugar com seu molho de tomate orgânico tradicional. A Fazenda Giori conquistou a segunda posição na categoria Bebidas, com o Keishr Bio Giori, que é um chá da casca de café robusta biodinâmico com especiarias e nesta mesma categoria a Gustavo Leonel Cafés Especiais ficou em terceiro lugar, com seus cafés especiais orgânicos. Calma que tem mais. Na categoria Sustentabilidade levamos dois prêmios, primeiro lugar com o produto farinha de maçã orgânica da Organovita e neste quesito garantimos também o terceiro lugar no pódio com Vegan Crunch, o cereal matinal com cenoura, beterraba, cacau e caramelo da biO2. Quer mais? Na categoria Inovação a Papapá conquistou o primeiro lugar com o produto palitinhos de vegetais orgânicos com grão-de-bico e beterraba. 

Depois de pular de alegria, volto ao chão da feira. Modéstia à parte, o pavilhão da Organis foi um dos grandes destaques, chamando a atenção tanto pelo design e estrutura, como pela forma de se comunicar. Um espaço que os associados da Organis souberam ocupar de forma muito atrativa, com um verdadeiro show de beleza e inovação em materiais de divulgação, embalagens, rótulos e expositores. Isso mostra que os orgânicos investem em apelos visuais capazes de refletir a qualidade e os diferenciais de seus produtos. 

Outro fato que me chamou a atenção foi a presença dos espaços coletivos do Sebrae, dos ministérios e das secretarias, mostrando a disposição das instituições na tarefa de promover produtores e cooperativas. Gostei muito, também, da nova forma de separar os ambientes entre orgânicos dos não orgânicos. Em vez do costumeiro corredor no canto, foi reservada uma área quadrada no centro da feira, o que possibilitou uma circulação maior dos dois públicos das feiras BioBrazil e Naturaltech. O espaço ocupado pelos orgânicos era bem menor, mas caracterizou-se um setor que as pessoas reconheciam com apenas dos orgânicos de verdade, ou seja, dos produtos auditados e certificados conforme a Lei 10.831. 

Eu falei que o local da nossa aldeia gaulesa era pequeno? Engano meu, pois, proporcionalmente e levando em conta as dificuldades enfrentadas pelo setor, na verdade ocupamos um espaço muito significativo e que tende a crescer nas próximas edições desta e de outras feiras. É claro que o universo orgânico brasileiro é muito maior do que estava ali representado, pois muitas empresas do setor estão com dificuldade para investir. Entre os empreendedores orgânicos que estavam lá, mas não conseguiram viabilizar a exposição de seus produtos e com os quais troquei ideias, apresentaram sua lista de queixas: adversidade climática, rigidez na legislação dos orgânicos, falta de financiamento específico para os orgânicos, dificuldades de lidar com o varejo, falta de políticas públicas, preço dos insumos, custo de logística e, como não poderia faltar, uma das razões para tudo isso, a falta de união da categoria. Mais um motivo para enaltecer os esforços coletivos dos associados da Organis ao organizarem o seu pavilhão que, além de divulgar as marcas presentes, também é uma verdadeira embaixada do conceito orgânico, em benefício de todos.

Resumindo, a BioBrazil estava a pleno vapor, pois a locomotiva dos saudáveis tem um vagão exuberantemente promissor: os orgânicos! Vimos grandes marcas mantendo a sua presença, as pequenas chegando com seu novos sabores e embalagens criativas, afirmando que somos um país com muita gente talentosa e que expressa brasilidade, tanto na forma de comunicar quanto em seu conteúdo saudável e gostoso. Os resultados foram muito positivos, como se pode comprovar numa simples auditagem das redes sociais. É inegável a quantidade de postagens falando sobre a feira. 

Observando a difícil situação social e econômica do Brasil e do mundo por um drone imaginário, olhando de cima e pesando todos os fatores, podemos dizer que apesar de ser um ano particularmente difícil, os orgânicos conseguiram se manter firmes, fortes e em contínuo movimento ascendente. Sinal de que, apesar dos pesares, estamos conseguindo defender dignamente a nossa aldeia e expandindo cada vez mais os ares benéficos da nossa Atmosfera Orgânica.

Cobi Cruz é designer, diretor executivo da Organis, membro do Conselho do Instituto Giro, entidade gestora de logística reversa de embalagens em geral e conselheiro do Consea.

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