Em seu blog Cozinha Bruta, na Folha de São Paulo, Marcos Nogueira deixou uma pergunta provocativa, que repercutiu fácil nas redes sociais: Você acredita em alimentos orgânicos? Quem compartilhou o artigo o fez com um sorrisinho maroto – Ah! Tá vendo só? Eu sabia que tinha caroço nesse angu!
Depois de ler a matéria, não encontrei caroço algum. Apenas conclusões precipitadas e sem fundamentos. Ele começa tentando comparar o Brasil com a Europa e os Estados Unidos, insinuando que por aqui temos apenas uma vaga ideia do que sejam alimentos orgânicos. Ignora que em 2018 nossas exportações de orgânicos podem ter chegado a US$ 160 milhões, e que nossos produtores já têm qualidade e competência para competir nos mais exigentes mercados globais.
Ele admite que não tem repertório para questionar a idoneidade das certificações no Brasil, mas prefere destacar a opinião daqueles que as consideram exigentes e exageradas demais. Ignora que a produção orgânica é regida por lei, a 10.831, criada em 2003 e regulamentada em 2011. Ela estabelece todos os parâmetros e requisitos que cabem aos produtores e às certificadoras. Quem quiser entrar nesse jogo, tem que dançar nos conformes.
Aliás, a dança dos orgânicos exige precisão, comprometimento e adoção meticulosa de várias práticas sustentáveis. Não se trata apenas de, como ele insinua, evitar agrotóxicos para não perder o status de orgânico. O produtor tem que investir na preparação do solo, fazer uso correto dos insumos, preservar os recursos naturais, fazer o manejo inteligente das pragas, garantir a saúde dos trabalhadores, gerir uma logística complexa que exige transporte e armazenamento especiais… Além de muitas outras práticas que impactam positivamente na sociedade e no meio ambiente.
Por fim, ele conclui sem enxergar o óbvio: no setor de orgânicos não há pontos cegos! Ao contrário, as práticas orgânicas impõem procedimentos rigorosos de transparência e rastreabilidade – quem não precisa segui-los são os alimentos convencionais! O consumidor de alimento orgânico, in natura ou processado, pode saber exatamente quem o produziu, onde, quando e como. Está garantido por um sistema produtivo regulado, consagrado em todo o mundo e que no Brasil cresce a taxas de 20% ao ano.
No Brasil, de fato, falsifica-se muita coisa. De modismos histriônicos a falsos argumentos. Mas ainda bem que tem muita gente que acredita e investe na produção orgânica, enxergando nesse mercado um atalho para um futuro mais sustentável. Trata-se de um esforço coordenado de produtores, técnicos, prestadores de serviço, industriais e varejistas para levar ao consumidor um alimento mais seguro e produzido com o mínimo de impactos ao meio ambiente.