No Brasil, muita gente ainda pensa na agricultura orgânica apenas como uma contraposição ao sistema de agricultura convencional. Para esses, ser orgânico é, basicamente, ser do contra: contra os agrotóxicos, contra a monocultura, contra o uso predatório dos recursos naturais, contra a desvalorização do trabalho no campo…
Não se pode negar que os orgânicos pensam diferente, afinal, o desenvolvimento da agroecologia e das práticas orgânicas está diretamente ligado à necessidade de encontrar soluções para problemas concretos, criados pelas práticas ditas convencionais. Mas daí a taxá-los de “do contra”, é uma simplificação. O que os orgânicos buscam é uma produção agrícola em harmonia com a preservação do meio ambiente, com a responsabilidade social e com a qualidade nutricional dos produtos que fornece.
E é justamente no momento em que conjugamos o verbo fornecer, que as simplificações se mostram… improdutivas! Hoje em dia, quem atua no mercado de orgânicos não o faz por teimosia, ou por necessidade de provar pontos de vista filosóficos e científicos. O faz para aproveitar oportunidades mercadológicas reais e para atender demandas cada vez maiores dos consumidores conscientes, que exigem produtos processados de forma igualmente consciente.
Quem atua no segmento de orgânicos sabe que é parte de uma cadeia produtiva complexa, que exige o domínio de técnicas e conhecimentos específicos. Não é um mero produtor, mas sim, um fornecedor, na melhor acepção da palavra.
Fornecer é atuar como parceiro, cumprir prazos, entregar qualidade e adequação… garantir regularidade. É isso que a indústria da alimentação exige de qualquer fornecedor. Não há porque ser diferente com um fornecedor orgânico. Ou há?
Na ponta da indústria, o sonho de consumo de qualquer departamento de compras é encontrar um fornecedor que esteja pronto para atender as demandas da empresa. Já o dilema do produtor orgânico é olhar-se no espelho e enxergar-se pronto para virar um fornecedor da indústria, sem queimar o próprio filme. Nos segmentos com alto índice de maturidade, essa dicotomia já é resolvida pelos programas de desenvolvimento de fornecedores, que adotam metodologias apropriadas para identificar potencialidades e oportunidades para ambos os parceiros.
Relacionar-se adequadamente com os fornecedores é básico para qualquer indústria que busca sobreviver num mercado competitivo – como o setor da alimentação, em especial. Busca-se extrair o melhor de cada fornecedor, usando suas competências para gerar diferenciais competitivos que tragam impactos positivos para os próprios produtos da empresa.