“As embalagens vazias, que já cumpriram seu papel principal, devem voltar ao ciclo, possibilitando a economia circular, para limpar o ambiente e poupar a extração de novos recursos.”

Os desastres ambientais são cada vez mais intensos, o mundo está sofrendo com chuvas torrenciais no sudoeste asiático e a Alemanha foi pega de surpresa com as chuvas mais intensas em um século. Os incêndios inacreditáveis na Grécia e no oeste americano e as temperaturas cada vez mais altas em regiões como a Sibéria impactando na calota polar e o frio intenso na américa do Sul, entre outros eventos, demonstram os efeitos do esgotamento do planeta (aqui, apenas os climáticos) impõem atenção do mundo à questão da sustentabilidade. Dentro desta nova situação, vemos alimentos sendo perdidos e rios carregando muitas embalagens vazias, indicando-as como uma das prováveis culpadas.  

Fundamentais na vida atual, as embalagens cumprem o papel de salvar alimentos, proteger e ampliar a sua validade, além de garantir a distribuição para a população. Elas precisam ser valorizadas e deixar de serem as vilãs para serem as protagonistas. As embalagens vazias, que já cumpriram seu papel principal, devem voltar ao ciclo, possibilitando a economia circular, para limpar o ambiente e poupar a extração de novos recursos. Daí a importância de discutir o tema Embalagem e Sustentabilidade para esclarecer como deve ser tratado, de forma isenta e imparcial, para além do tipo de matéria-prima ou fonte.  

É fundamental a correta avaliação do ciclo de vida e da pegada de carbono produzida com esta ou aquela opção. Materiais biodegradáveis ou compostáveis são interessantes e aplicáveis em algumas situações, porém para resolver a questão dos resíduos sólidos, é preciso aprender a viver numa nova economia, a economia circular, ou seja, fazer o ciclo completo de cada material, usar o recurso até o fim.  

A conscientização do consumidor sobre os riscos ambientais em embalagens de alimentos e bebidas, bem como produtos farmacêuticos, atingiu o seu auge. Para os fabricantes da indústria de alimentos e bebidas, isso significa pressão para repensar as estratégias de embalagem, revisar os planos de entrada no mercado e criar novos parceiros na cadeia de suprimentos.  

Embalagens vazias de papel, vidro, metal e plástico são resíduos completamente recicláveis e, juntos, representaram em 2018 68% da coleta seletiva no Brasil, segundo o Cempre (Compromisso Empresarial para reciclagem).  

Grande parte das pessoas acredita que as companhias precisam se engajar em favor do meio ambiente, já que vem sentindo os efeitos das mudanças do clima e os consumidores entenderam que as empresas podem e devem se envolver em projetos de sustentabilidade ambiental.  

A pauta ambiental se tornou uma realidade da nova economia e vai guiar as estratégias de negócios daqui para frente. Assim, donos de marcas começaram a transformar suas estratégias de embalagem para se alinhar às expectativas dos consumidores. Como cidadãos de um mundo cada vez mais preocupado com a sustentabilidade, os executivos também reconheceram a sua responsabilidade com o meio ambiente. as alterações nas embalagens para a redução do impacto ambiental afetam potencialmente o produto e a lucratividade, as perguntas que as empresas precisam responder são muitas.  

Reavaliar as cadeias de suprimentos será mais importante do que nunca, pois o fabricante provavelmente precisará obter novos recursos de embalagem para muitas necessidades.  

Iniciar um movimento pela educação ambiental do consumidor passa pela embalagem. A embalagem como veículo de educação e comunicação é o melhor, mais rápido e barato disponível. As empresas devem assumir a responsabilidade pelo seu impacto ambiental.  

À medida que se tornam conscientes deste papel verão que a economia circular torna as embalagens economicamente sustentáveis também, e que devem investir em embalagens com material pós-consumo e orientar o consumidor a importância do seu papel na separação correta e na devolução das embalagens usadas.  

Esta é uma oportunidade de ter uma visão holística do impacto ambiental da marca, além de se alinhar com os clientes e criar lealdade. Embora os problemas sejam complexos, o avanço da tecnologia veio para ajudar na tomada de decisões e vai colaborar na criação de novas oportunidades de negócios. Todos podem e devem agora fazer parte da solução para um problema que é de todos. 

Chegou o momento de inverter o modelo da economia linear para a economia circular. O planeta pede socorro e definitivamente é necessário que todos: governos, sociedade civil, empresas, sejam fabricantes e distribuidores de bens de consumo/produtos ou de embalagens; saírem da fase de discursos para assumirem posições e atitudes concretas. Há inúmeros movimentos e iniciativas que apoiam a mudança de mindset (modelo mental). Na economia circular nada é desperdiçado. Todos os produtos devem passar por reaproveitamento, transformação e reciclagem. A chave para que isso ocorra, além da tecnologia da reciclagem, é o design inicial do produto, levando em consideração o que acontecerá com ele quando perder seu valor de uso. Já existe tecnologia para apoiar o desenvolvimento desse novo modelo. A indústria de reciclagem já atingiu a geração 4.0, além da disponibilidade da inteligência artificial, Big data, entre outras soluções ou ferramentas.  

A RETORNABILIDADE é outra importante possibilidade de redução de impacto ambiental para embalagens de vidro e de PET retornável. A Coca-Cola que deu um importante passo para o aumento do retorno de suas embalagens PET com a criação da garrafa universal, estendeu agora o mesmo conceito para suas garrafas de vidro. Já a Cia Müller de Bebidas utiliza embalagem retornável e chega a produzir até 80% da cachaça 51 com garrafas que voltaram ao seu ciclo.  

Um exemplo de muito êxito que é seguido por muitas empresas é o programa “Glass is Good” da ABRABE (Associação  Brasileira de Bebidas).  

A Papirus, indústria de papel cartão, implementou um sistema da startup Polen para rastrear o material pós-consumo, que utiliza na composição de seu material. O sistema beneficia e gera valor para todos os elos que compõem a cadeia da economia circular. O consumidor consegue visualizar, por meio de um QRCode, a rastreabilidade do processo de produção do papel cartão utilizado nas embalagens dos produtos. As cooperativas e catadores ganham novas possibilidades de receita, enquanto as gráficas conquistam um diferencial importante para o seu produto, e os proprietários das marcas atendem aos requisitos da legislação e demonstram seu compromisso com o meio ambiente.  

A indústria de latas de alumínio já ultrapassa o índice de 96% de reciclagem e a de papelão ondulado, 80%. Precisamos valorizar as cadeias de revalorização de materiais usados para que a Economia Circular avance em todos os materiais.  

Material usado é apenas matéria-prima de outra forma!  

Espero que mais pessoas adotem escolhas melhores no âmbito pessoal e profissional assim, enfim, teremos embalagens melhores para um mundo melhor e para mais pessoas.

Assunta Napolitano Camilo
Diretora no Instituto de Embalagens, Better packaging better world e Futurepack

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