“Resumindo, a CSA é uma forma bem direta de relação entre quem consome e quem produz, com benefícios para os dois lados. É uma soma que resulta em economia de recursos naturais, humanos e financeiros.”

O que é CSA? Apenas mais uma sigla? Ou três letrinhas que sintetizam a capacidade humana de somar esforços para resolver problemas coletivos? Acabando com o suspense e já dando spoiler: CSA significa Comunidade que Sustenta a Agricultura, uma forma inovadora de economia, solidária e não-predatória, baseada na atuação conjunta de agricultores e consumidores para o cultivo e comércio de alimentos saudáveis. E que pode muito bem, com as devidas adaptações, ser uma opção vantajosa para quase todos os demais tipos de relacionamentos que envolvam compra e venda de produtos.

Impossível? Complicado? Utópico? Nada disso, esse sistema já existe, tem grandes exemplos de sucesso – veja aqui, foi aprovado na prática e está se expandindo rapidamente. Para facilitar a compreensão dos benefícios das CSAs, peço licença para começar do começo, isto é, pelos imensos desafios que elas se propõem a equacionar – e de fato equacionam.

Sabemos que o modelo vigente de produção e comércio de alimentos é o grande – talvez o maior – vilão da questão ambiental. Nesta seara, existem muitos interesses imediatistas em jogo, então é comum nos vermos diante da velha chantagem, do argumento negacionista de quem ainda resiste às mudanças: fazer o que, se precisamos alimentar bilhões de pessoas?

Esclareço, sem demora, que este argumento catastrófico é obviamente falso. Pode ficar certo de que existem diversas metodologias para se produzir sem que seja necessário destruir a água, o ar, a paz social, a saúde das pessoas e a fertilidade do planeta. Não estamos condenados a escolher entre a fome ou a baixa qualidade de vida de um ambiente cada vez mais inabitável. Trata-se, claro, de uma falsa opção, puro terrorismo, que as diversas ciências da agricultura, entre outras, já trataram de desmascarar.

Hoje é visível, independentemente de bagatelas ideológicas que, enquanto a concorrência irracional separa, a colaboração soma e a solidariedade multiplica. Existem, sim, alternativas mais racionais de se plantar, processar, distribuir e comercializar alimentos. E os orgânicos estão na vanguarda, não por serem donos da verdade, mas por uma razão bem prática: o movimento já tem um sistema bem definido, dos pontos de vista técnicos, científicos e éticos. Explicando melhor, os orgânicos não são uma teoria, mas uma cadeia de produção, testada e aprovada, praticada no campo e ensinada nas escolas, regulamentada em lei federal, pronta para ser expandida e aplicada na escala que for necessária, em se levando em conta as necessidades nutricionais da população.

Calma, não esqueci das CSAs. Elas entram aqui para exemplificar o dinamismo do movimento orgânico, em suas diversas vertentes, e o imenso potencial de inovação que é capaz de agregar. Resumindo, a CSA é uma forma bem direta de relação entre quem consome e quem produz, com benefícios para os dois lados. É uma soma que resulta em economia de recursos naturais, humanos e financeiros. 

Vamos lá, então. A CSA funciona como uma sociedade entre consumidores, que se dispõem a pagar um determinado valor mensal e um grupo de produtores, que se compromete a entregar os produtos orgânicos por período estipulado. Aí você poderia dizer: parece muito com o sistema de entrega de cestas em casa. Mas têm uma diferença, nesse tipo de arranjo, o encontro pessoal e a troca de ideias, experiências e afetos com os agricultores apoiados e outros sócios-apoiadores faz parte da dinâmica desse comércio solidário.  

A partir da formação da CSA, o agricultor pode contar com os compradores como se fossem seus “sócios capitalistas”. Vamos combinar: é bem melhor dizer “sócio apoiador”. Essa demanda garantida dá a quem produz a possibilidade de planejar melhor, ter mais previsibilidade na entrada de recursos e menos desperdícios em toda a sua cadeia. Desta maneira, ele pode controlar melhor suas finanças de curto e médio prazos, reduzindo custos, melhorando a qualidade de vida de sua família e de quem trabalha em suas propriedades. E os sócios da CSA têm a garantia de contar com produtos de alta qualidade em sua mesa a preços diretos do sítio, uma seleção de alimentos variada e flexível. Além disso, têm direito de verificar o processo com seus próprios olhos, a qualquer momento, por meio de visitas pessoais aos locais de produção. Tudo isso de forma direta, sem intermediação ou custo adicional e com o benefício extra de estar financiando a preservação do planeta.Sim, acreditamos, baseados em fatos, que é espalhando essa Atmosfera Orgânica que o mundo pode mudar para melhor, a partir de relações colaborativas entre as pessoas e respeitosas com a natureza. Para mais detalhes e exemplos práticos de CSAs já instituídas – que, aliás, vão muito bem, obrigado – clique aqui e leia o artigo completo lá na plataforma mybest.

Cobi Cruz
Diretor Executivo da Organis – Associação de Promoção dos Orgânicos

Compartilhar