“Temos que entender que a cooperativa é uma empresa privada, resultante da união de menores, visando obter algumas vantagens dos grandes.”

A união de produtores rurais em cooperativas no intuito de otimizar a compra em comum de insumos, de dar escalabilidade a sua logística, a assistência técnica e a venda em comum de suas safras, é uma perfeita filosofia, para trazer ao pequeno a força do grande.

Observar os 6 pontos que trago para agregar maior efetividade a essa filosofia:

1. Política acima do profissionalismo – um grande e fatal erro.

Temos que entender que a cooperativa é uma empresa privada, resultante da união de menores, visando obter algumas vantagens dos grandes. Por ser uma sociedade privada que figura em seu princípio eleição para composição da diretoria, a política pode, e frequentemente ocorre isso, ter o foco no poder e não na causa e nas boas práticas de gestão.

Gestão profissionalizada, com planejamento e metas de curto, médio e longo prazo, devidamente aprovadas em assembleia, e seguidas com indicadores claros e amigáveis, podem blindar efeitos nocivos de uma política voltada para o poder que destrói a filosofia máter e a empresa.

2. Interesse de poucos prevalecem nas decisões que afetam muitos – síndrome da cooperativa Ltda.

Por vezes, o conselho ou diretoria, representante dos cooperados, atua e decide em benefício dos poucos conselheiros e diretores. Quando então questionados, demagogicamente ofertam ‘benefícios’ do ‘cala a boca’ para muitos ou para grupos de cooperados, para que a normalidade política se restabeleça.

O DSP – Demonstrativo de Sobras e Perdas – não aceita desaforo, ele logo mostra os efeitos nocivos de decisões pouco profissionais e técnicas.

3. Gestão não profissional e falta de governança – repartição pública querendo ser empresa.

A Cooperativa vira cabide de emprego e a medição de eficiência e meritocracia não são bem-vindas.

Indicadores de eficiência implantados e acompanhados apresentam os setores e pessoas que performam. A decisão do que fazer com esta informação tem que vir a reboque e sem demora.

4. Decisões sem lastro em planejamento estratégico e sem olhar para os indicadores de resultados –
reuniões de condomínio que discutem tudo menos os resultados efetivos e as estratégias para o futuro.

Não existem ventos favoráveis para quem não sabe para onde vai. O planejamento bem feito, discutido, claro e acompanhado, evitam a subjetividade nas reuniões.

As decisões dolorosas de uma retomada e recuperação de uma empresa cooperativa devem ser mitigadas com duas coisas: o desenho de um futuro melhor e por números que indicam a evolução para esse futuro.

5. Filosofia cooperativista frágil nos conselhos e nos cooperados – amnésia crônica do propósito que os uniu.

O que nos uni? Essa é uma pergunta que deve ser feita e respondida várias vezes. A pergunta pode e deve permanecer a mesma, a resposta pode e deve ser ajustada ao longo da existência da cooperativa.

6. Busca frenética por capital de giro antes de obstinada ação na busca de eficiência operacional e de caixa – o fúnebre entendimento que o caixa se resolve com dinheiro e não com eficiência da operação.

Colocar dinheiro bom em um lugar ineficiente, só faz deteriorar o negócio mais rapidamente. Entender o negócio, verificar onde estão as grandes ineficiências e corrigi-las rapidamente. Depois verificar onde estão as pequenas e muitas ineficiências e fazer um plano de correção que seja acompanhado com acuidade.

O Capital de Giro então deve vir com fim específico, carimbado! Não pode circular, sem destino e disciplina na cooperativa.  

O caminho para a recuperação de uma empresa cooperativa é doloroso.

Passa pela conscientização do problema, entendimento em números do que está acontecendo e tomada de medidas planejadas e acompanhadas por indicadores.

As dores serão muitas, mas para sair da UTI de volta para ‘casa’ intervenções desconfortáveis serão necessárias. As cooperativas devem estar atentas para não estarem cultivando ‘comorbidades’ que a levarão a um estado crítico, às vezes irreversível.

Cooperativas de produtos orgânicos, teriam um sétimo e importante ponto: entender melhor o mercado além de suas ‘porteiras’.

Existe um entendimento bastante limitado do valor dado ao produto orgânico, além das fronteiras da cooperativa. Com este ‘gap’ de entendimento e de afastamento da realidade de mercado, os produtos orgânicos no chão da roça são comprados e não vendidos; Explico: o preço ofertado pelos produtos aos agricultores é bem menor do que seu valor no mercado. Um maior conhecimento do mercado, além fazenda, além Brasil, certamente oferecerá à cooperativa e seus associados, ganhos e poder de quem realmente vende o seu produto.

Roberto Lessa
Agricultor Orgânico – Proprietário da Asteca Agrícolas e da Sousa Ribeiro Agro Trade Export
Os artigos assinados são de responsabilidade dos seus respectivos autores e não refletem necessariamente a opinião da Organis.

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