“A adubação em sistemas regenerativos é complementada por práticas conservacionistas, como a aplicação de nutrientes em faixas em nível, alinhadas ao terraço. Isso aumenta a eficiência na utilização de insumos e minimiza a perda de nutrientes por lixiviação. “

A agricultura regenerativa, especialmente no contexto do sistema de plantio direto (SPD), conecta cada etapa do processo produtivo em um fluxo de benefícios que favorecem a saúde do solo, a biodiversidade e a resiliência ambiental. As práticas conservacionistas, como semeadura em nível, terraço e drenagem, desempenham um papel fundamental para fortalecer as conexões regenerativas entre solo, água, plantas e ecossistemas.

O planejamento de uso das terras é o alicerce para práticas regenerativas e conservacionistas. Ele inclui uma análise detalhada da relevância, do solo e das condições climáticas, permitindo identificar as áreas mais específicas para cultivo, conservação e manejo de água. No início, na implantação do Sistema Plantio Direto, a mobilização do solo é mínima, associada a uma correção e semeadura de outono. Essa etapa, conecta as práticas agrícolas ao ambiente, maximizando a proteção do solo contra a erosão e a degradação. No SPD, o planejamento de safra prioriza a diversificação de culturas, a rotação e o consórcio, ajustando as espécies às condições locais e à relevância. Além disso, o planejamento considera a organização de plantios em áreas em nível, potencializando o uso eficiente da água. O planejamento de safra conecta as práticas conservacionistas ao manejo integrado, favorecendo a conservação do solo e diminuindo o escoamento superficial. As práticas como operações em nível são integradas para reduzir o impacto da mecanização e manter a estabilidade do solo. O terraço é instalado para redirecionar o fluxo de água e evitar o escoamento superficial. Essa abordagem conecta o manejo regenerativo à conservação, garantindo que o solo permaneça útil e protegido.

A cobertura permanente com palhada e plantas é essencial para estabilizar o solo e proteger sua estrutura. Em áreas inclinadas, a combinação de cobertura com terraço e plantio em nível aumenta significativamente a retenção de água e nutrientes. Essa combinação de práticas cria uma conexão poderosa entre a proteção do solo e a mitigação da erosão, especialmente em terrenos acidentados. A semeadura direta em nível é prática conservacionistas que integra os princípios regenerativos do SPD. Semear em linhas perpendiculares à declividade do terreno reduzo escoamento superficial e aumenta a infiltração de água no solo. Essa técnica conecta o manejo do solo ao ciclo hidrológico, favorecendo a recarga dos lençóis freáticos e a redução de impactos erosivos.

A adubação em sistemas regenerativos é complementada por práticas conservacionistas, como a aplicação de nutrientes em faixas em nível, alinhadas ao terraço. Isso aumenta a eficiência na utilização de insumos e minimiza a perda de nutrientes por lixiviação. O manejo integrado de nutrientes conecta a fertilidade do solo ao equilíbrio ambiental, fortalecendo o sistema produtivo como um todo.

Práticas como o terraço desempenham um papel indireto, mas relevante, no controle de pragas e doenças, ao evitar a degradação do solo e criar condições mais equilibradas para o desenvolvimento das culturas. O equilíbrio criado por essas práticas reduz o estresse das plantas e favorece o manejo natural de pragas e doenças, conectando a conservação do solo à saúde das culturas.

Na colheita, o manejo cuidadoso dos resíduos agrícolas mantém a cobertura do solo intacta. Os resíduos são organizados em faixas em nível, reforçando as barreiras naturais que protege contra a erosão. Essas práticas conectam o ciclo produtivo ao regenerativo, garantindo a proteção contínua do solo para o próximo ciclo.

Práticas conservacionistas não apenas reforçam os princípios regenerativos do sistema de plantio direto, mas também desempenham um papel conectivo crucial. Eles garantem que as etapas do processo agrícola sejam integradas, formando um sistema resiliente e sustentável. As conexões regenerativas transformam a propriedade agrícola em um organismo funcional, onde solo, água, plantas e o ambiente interagem harmoniosamente. O resultado é um sistema produtivo que não apenas conserva recursos, mas também regenera o solo e os ecossistemas, criando um futuro mais sustentável para a agricultura e o meio ambiente.

Afonso Peche Filho
Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas

 

Comentário da Organis

Um breve papo orgânico sobre o plantio direto

A produção orgânica não se faz apenas do plantio direto, mas ele é parte importante do seu conjunto de técnicas. Aliás, ele inclusive vem sendo usado cada vez mais no plantio convencional. Para se ter uma ideia, em 2022, foram 33 milhões de hectares cultivados nesse sistema no Brasil, apesar da resistência inicial.

A popularização do plantio direto na palha, ou como dizem os americanos, no-tillage ou no-till farming, se deve ao livro Ploughman ‘s Folly, ou seja A Loucura do Lavrador ou A Loucura do Arador, no qual o agricultor americano Edward H. Faulkner mostra, com dados concretos, o absurdo que é limpar, raspar e revolver o solo, deixando-o “limpo” a cada plantio.

Como grande parte das propriedades americanas estava em processo de desertificação, ou entrando nele, muitos procuraram Edward para entender como ele era tão bem-sucedido sem o uso “maluco” de arados. E o resto é história, com a adesão de estudiosos e produtores de todo o mundo.

Esperamos que, na rota do plantio direto, se espalhe junto às demais metodologias orgânicas e sua consciência da terra viva.

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