“Anna Maria Primavesi, pesquisadora, responsável por notáveis avanços científicos em diversos campos da agronomia. Sintetizando muitos anos de estudo e prática, publicou, em 1979, “Manejo ecológico do solo: a agricultura em regiões tropicais”, obra até hoje considerada referência.”

Neste janeiro de 2025, marcado por dolorosas – mas previsíveis – catástrofes ambientais pelo mundo, convém relembrar os cinco anos da morte de uma das pioneiras na aplicação prática das ciências agroflorestais no Brasil. Uma mulher que, além de brilhante cientista, pesquisadora, professora e tantas outras coisas, foi também uma personagem diferenciada, cuja vida merece servir de enredo para aqueles filmes que prendem, ensinam e emocionam.

Anna Maria Primavesi nasceu no Castelo Pichlhofen, do início do século XVI, na cidade austríaca de St. Georgen ob Judenburg, em 3 de outubro de 1920 e morreu em São Paulo, com quase 100 anos, em 5 de janeiro de 2020.

Anna foi uma das raras mulheres formadas engenheiras na célebre Boku – Universidade Rural para Agricultura e Ciências Florestais, localizada em Viena. Mas, antes disso, já havia recebido, por iniciativa do pai, uma sólida formação científica, acompanhada da prática de equitação, tiro ao alvo, natação, canoagem, futebol, ginástica, desenho, canto, piano e violão.

Seu espírito curioso e aventureiro a levou, inclusive, a aprender a voar em planadores. Apenas como exemplo de um de seus múltiplos talentos, com apenas 20 anos de idade já havia desenvolvido a capacidade de detectar o tipo de solo em que havia sido cultivada a uva de cada vinho europeu.

Depois de passar por diversas aventuras e sobreviver a experiências extremamente traumáticas na Europa da guerra e do pós-guerra, Anna decide, em 1948, radicar-se no Brasil, trazendo na bagagem sua visão inovadora.

Aqui, tornou-se uma importante pesquisadora, responsável por notáveis avanços científicos em diversos campos da agronomia. Sintetizando muitos anos de estudo e prática, publicou, em 1979, “Manejo ecológico do solo: a agricultura em regiões tropicais”, obra até hoje considerada referência.

Anna disseminou entre nós a compreensão de que o solo é um organismo vivo, de cujas características biológicas decorrem os seus aspectos físicos e químicos. Assim, desenvolveu técnicas de preservação do solo, recuperação de áreas degradadas e manejo integrado com o meio ambiente, provando, com todas as letras e números, que o uso de insumos químicos pode ser substituído, com vantagens, por adubação verde, plantio direto, controle biológico de pragas, entre outros. Aliás, foi ela quem criou, na Universidade Federal de Santa Maria-RS, o primeiro curso de pós-graduação em agricultura orgânica. Além de tudo, Anna foi, ela mesma, uma agricultora orgânica e, também, uma ativista, fundadora da Associação da Agricultura Orgânica (AAO), uma das primeiras do Brasil.

Devemos a essa talentosa e determinada mulher muitos dos avanços que hoje servem de contraponto aos desequilíbrios ambientais cada vez mais evidentes e que nos dão razões sólidas para acreditar na virada deste jogo a favor da ciência e do bom senso.

Roberto Prado
Poeta, jornalista, publicitário, radialista, roteirista e membro da equipe da Organis desde 2020.

Compartilhar