“O vocábulo agroecologia nasceu na década de 1970, enquanto ciência multidisciplinar com princípios aplicáveis na organização social, visando introdução e manutenção de novas formas de relacionamento da sociedade com a natureza.”

Os estudos da sociologia rural podem nos ajudar a entender a relação entre a produção de alimentos agroecológicos e orgânicos e o mercado consumidor. Esta relação, cada vez mais presente na sociedade, transpassa toda a cadeia agroalimentar e envolve diversos atores e diversos segmentos, formando uma grande teia de relações sociais.

As relações sociais entre atores da cadeia agroalimentar podem determinar a viabilidade ou não do negócio. Quando imaginamos as pontas desta cadeia, ou seja, a produção e o consumidor do alimento, as quais são os atores fundamentais e essenciais, podemos ter a dimensão do volume de meios necessário para unir estas duas pontas.

Com exceção das relações diretas entre os produtores e consumidores, como no caso das feiras livres, as demais relações são caracterizadas pelos produtores vendendo seus produtos para intermediários compradores (mercados de pequeno, médio, grande varejo; restaurantes e lojas, etc.), que vão ofertar os produtos aos consumidores finais. Neste contexto, as relações permeiam acordos, contratos, entregas, reposições, acertos e desacertos e, ao final, a utilidade dos negócios para ambas as partes. Quando uma das partes não se torna viável, a cadeia se rompe, gerando impactos negativos para o produtor e para o consumidor.

O vocábulo agroecologia nasceu na década de 1970, enquanto ciência multidisciplinar com princípios aplicáveis na organização social, visando introdução e manutenção de novas formas de relacionamento da sociedade com a natureza. A Agroecologia propõe a integração dos conceitos das ciências naturais com os das ciências sociais, além da dimensão tecnológica baseada em conhecimentos tradicionais, cotidianos, pesquisas aplicadas e metodologias científicas. Essa ciência busca a sustentabilidade ecológica, econômica, social, cultural, política e ética.

O papel da sociologia nos estudos das cadeias agroalimentares foi discutido por Cassol e Scheneider, em a “Produção e Consumo de Alimentos: Novas Redes e atores”1. Até meados do século XX, a sociologia manteve-se relativamente alheia aos estudos sobre alimentação e consumo de comida em face dos efeitos sociais decorrentes dos processos de mudança tecnológica, as quais atraíam mais a atenção dos analistas para o lado da produção e natureza dos processos produtivos e, posteriormente, das questões de distribuição (Ward, Coveney e Henderson, 2010).

O que a sociologia constata é que existe uma mudança no padrão de consumo, em resultado de questionamentos acerca dos modelos de produção de alimentos, bem como das relações entre os segmentos da cadeia agroalimentar. Frente a esta constatação, são grandes os desafios enfrentados para construir relações justas, socialmente e economicamente entre os envolvidos na cadeia. A partir da perspectiva, é possível garantir as bases para a sustentabilidade do fornecimento de alimentos para o mercado consumidor pautado na segurança do alimento para a saúde, ou seja, conhecendo sua origem e forma de produção, assim como seus valores nutricionais e biológicos.

Um caminho para que a relação seja mais justa é integrar os princípios da agroecologia nas relações comerciais entre os produtores fornecedores e os consumidores. A partir desta aproximação é possível que os consumidores possam influenciar nas políticas comerciais adotadas pelo mercado comprador dos alimentos agroecológicos e orgânicos, no sentido de ter relações mais justas entre as partes envolvidas na cadeia.

Em “Movimentos sociais rurais no Brasil: o estado da arte”, Miranda e Fiúza2 mostram que o sistema agroalimentar começou a mudar, já nos anos de 1970. O campo brasileiro sofreu as consequências de um modelo de desenvolvimento excludente, assente na degradação dos recursos naturais, na concentração fundiária, no êxodo rural e correlativa transformação das transformações dos sistemas de produção e de relações sociais. Neste contexto, os diversos trabalhadores rurais, assentados, mulheres, jovens e pequenos produtores rurais sentem o impacto direto desses efeitos.

A reflexão apresentada por John Wilkinson, no livro Reestruturação do Sistema Agroalimentar, no artigo “Perfis Emergentes no Setor Agroalimentar”, remete às tendências que afetam os padrões de demanda e emprego, e identifica as transformações técnico-econômicas e organizacionais mais relevantes, que apontam a emergência de um novo modelo industrial. Conclusivamente, as relações produtor-consumidor, em todas as áreas, estão atravessando um momento de profunda reorganização dentro do sistema econômico e social global e o setor agroalimentar não é uma exceção.

Os estudos demonstram que a dinâmica da cadeia agroalimentar se movimenta a partir das mudanças na demanda de consumo e que os atores envolvidos nos diversos segmentos precisam se adequar para construir uma cadeia de valor justa, transparente e que atenda os anseios dos principais atores de todo o processo, o produtor e o consumidor.

Fabio Ramos
Diretor da Agrosuisse

1 Publicado por Abel Cassol e Sergio Scheneider da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).  
2 Ambas da Universidade Federal de Viçosa. Artigo publicado em 2017 na Revista de Economia e Sociologia Rural.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos seus respectivos autores e não refletem necessariamente a opinião da Organis.

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