“Material do mito é o material na nossa vida, do nosso corpo, do nosso ambiente; e uma mitologia viva, vital, lida com tudo isso nos termos que se mostram mais adequados à natureza do conhecimento da época.”
Joseph Campbell

Atenção, energia, vitalidade, memória, tudo o que se precisa para cumprir as tarefas heroicas do dia a dia e transformar a vida para melhor: isso é o café robusta. 

A relação que o homem possui com a Terra, ainda que muitos não se apercebam disso e pratiquem ações opostas a essa verdade, é a mesma relação que o homem experimenta com a sua própria mãe: é a experiência de união efetiva com um corpo, de participação simbiótica entre dois seres que nalgum momento são exatamente um, numa construção alternada e paralela de contenção, conteúdo e contenido. 

A agricultura biodinâmica, baseada também em práticas dos primeiros agricultores que mantinham profunda conexão com a terra, enquanto solo, e com a Terra enquanto corpo celeste que envolve e sustenta a vida em seu interior e ao mesmo tempo enquanto receptáculo das forças gravitacionais e vibracionais de outros corpos celestes que permeiam o universo, foi cunhada como termo, compilada como instrumento e explicada como fundamento por Rudolf Steiner em 1924.  

O belíssimo trabalho de Steiner trouxe para a agricultura o campo prático das manifestações de uma filosofia que já sustentava as primeiras comunidades de agricultores em diferentes partes do globo e apontou de forma peremptória a importância do homem no sistema agrícola, esclarecendo-o de sua digna e imprescindível tarefa de vivificar a terra através da agricultura consciente. Essa consciência desperta que transforma o agricultor biodinâmico num pesquisador contínuo e o seu espaço de trabalho, a terra individualizada pelas condições geográficas e climáticas, no laboratório onde as interações planta, animal, homem e cosmo acontecem, não num misticismo infundado, mas numa mística palpável, tão palpável como aquela mística ou mistério que explica a vida em cada corpo humano. Assim como em cada corpo humano a saúde depende de condições internas e externas, também assim acontece na agricultura, convenientemente trabalhada considerando cada sítio, fazenda, quinta ou mesmo jardim como um organismo agrícola que precisa estar em equilíbrio interno e externo para que a saúde e a vida sustentável aconteçam. 

Para compreender os ciclos da natureza, as necessidades do solo, as características das plantas, as condições da vida animal e suas interações possíveis é preciso que o homem esteja em sintonia com todos eles, e essa sintonia só é possível se o indivíduo se reconhece como parte deles e de um conjunto maior, do universo em que todos estamos contidos. Quando se resgata a relação maternal com a Terra e com o universo, “o indivíduo está em completa harmonia e sintonia com esse mesmo universo”  e nessa condição é capaz de desenvolver autonomia crítica, leitura correta do que a terra precisa e do que cada planta guarda como potencial de vida e assim levar, enquanto obreiro da terra, o melhor de cada alimento que o solo oferece ou mantém.  

A Terra é nosso corpo, é nosso corpo coletivo e individualizado ao mesmo tempo. Assim como nosso corpo físico, através do qual expressarmos nosso self, guarda emoções, sensações e memórias geradas pela nossa própria experiência atual quanto por aquelas vividas pelos nossos ancestrais, também a Terra guarda registros de tudo que imprimimos nela ao longo dos milhares de anos que a habitamos e do que já havia sido registrado nela antes mesmo de nossa chegada ou nossa evolução como homo sapiens.

Quando a terra é naturalmente saudável, a vida cresce espontaneamente. Foi essa premissa que sustentou e sustenta, em primeiro plano, o trabalho que foi e é realizado no organismo agrícola que carinhosamente chamamos de Fazenda Giori.  

Aqui nos individualizamos como pessoas, individualizamos nosso trabalho com a terra que nos é confiada para ser trabalhada (não explorada), individualizamos nossa relação com o ambiente interno, externo e superior, respeitando os ciclos astronômicos, aprendendo constantemente a utilizarmos nossa bússola interna e sintonizá-la com os apelos da natureza manifesta e imanifesta e assim nos capacitarmos, como no mito de Teseu e Ariadne, a sair do labirinto de ilusões e condicionamentos, utilizando o fio que os conceitos biodinâmicos nos oferecem, e a entender o mito e transformá-lo.  

É essa crença na vida e a vontade de mudar a realidade ao nosso redor que nos impulsionou a vivermos o mito de Teseu e encontrar forças e condições para provar, para nós mesmos, e sustentar para qualquer um que o café robusta que cultivamos como bebida é vivo, vibrante, saboroso e positivamente impactante na saúde do consumidor quando cultivado e produzido sob a bandeira de que a terra saudavelmente nutrida produz plantas sustentavelmente saudáveis e que desenvolvem todo seu potencial. Uma vez que compreendemos isso sabemos exatamente o que cada planta pode oferecer para permitir que cada cultura (arroz, feijão, tomate, milho, café etc) expresse o seu melhor quando convertida e disponibilizada como alimento.  

O primeiro passo para se entender que toda planta tem um sentido germinal na cadeia da vida é assumir que não existe, em nossa concepção biodinâmica de cafeicultura, alimento bom ou especial ou superior que não seja antes de tudo saudável e vivo. A segunda é que a vida se alimenta de vida, portanto, como alimento vivo o café robusta, assim como o café arábica, tem o mesmo potencial de expressar qualidades positivas de aroma e sabor, desde que seja compreendido em suas características individuais. Como os homens, as plantas guardam as suas individualidades e conhecê-las é o único caminho seguro para que se produza um bom café, robusta, arábica ou qualquer outro. 

Estabelecer uma ligação real entre agricultor e a planta (Coffea robusta ou Coffea canephora) de modo que seja possível entender o seu fluxo e suas necessidades, o manejo da área cultivada e sobretudo o tempo de colheita, é que vai dizer se a bebida será saborosa e saudável ou não. Não é a espécie ou o gênero de uma planta que ditam o sabor, é o conhecimento sobre ela que o faz. 

Na visão Demeter, que como certificação biodinâmica representa a agricultura orgânica e biológica por excelência, um organismo é uma forma de vida dinâmica e apenas dinamicamente se pode entendê-lo, o que significa que mesmo condições aparentemente inalteráveis podem ser modificadas quando o fluxo da vida ou o ciclo é respeitado.  

A biodinâmica nos empresta essa capacidade de entender o fluxo da vida e a respeitá-lo, preservando o impulso vital que existe naturalmente no café que produzimos. O grande diferencial conquistado pela Fazenda Giori é justamente o impulso vital da biodinâmica no café robusta e a retomada de sua força terapêutica como sua verdade autêntica.  

Foco, energia e memória são potentes benefícios que o consumo do café robusta biodinâmico oferece. Quando se compreende que maior cafeína significa mais antioxidantes e não necessariamente mais amargor, quando se compreende que mais cafeína não significa menos doçura, quando se compreende que a chave para conhecer a verdade sobre a experiência sensorial que um alimento pode fornecer está também no conhecimento sobre como prepará-lo, descobre-se que o mito na verdade tem outro significado, é o que antes era apenas um café mais forte, agora se vê que é na realidade somente mais vital! 

A missão da agricultura biodinâmica é respeitar a vida, produzindo alimentos nutritivos com as melhores técnicas de proteção ao meio ambiente. Foi o desejo de assumir essa missão que levou a Fazenda Giori a se tornar uma fazenda biodinâmica, produzindo o primeiro café robusta biodinâmico do Brasil, com certificação Demeter.  

Para nós, o café robusta biodinâmico é a compreensão de um mito, e todo mito transforma vidas!