“Confesso que, nesse estágio atual da discussão, estou longe de querer ser um formador de opinião. Ao contrário, estou mais interessado em aprender.”

É no mínimo esquisito começar um artigo com uma pergunta tão idiota! É óbvio que quando ouvimos a palavra agrotóxico, nós, os consumidores leigos, sentimos uns três tipos diferentes de arrepios. Não queremos saber de veneno nas nossas mesas!

No entanto, esse começo de conversa serve para mostrar que, com os ânimos acirrados, a discussão sobre essa lei que flexibiliza as regras para fiscalização e utilização de agrotóxicos está polarizada: ou se é a favor, ou se é contra! Que lado escolher?

A galera que defende mais intervenção estatal quer o poder público exercendo o controle e a fiscalização com o máximo de rigor. O pessoal que acredita na livre iniciativa acha que o mercado é capaz de se autorregular, encontrando soluções mais eficazes, mais competitivas e menos prejudiciais à saúde.

A galera estatizante defende a manutenção de instâncias adicionais que limitem a autonomia do Ministério da Agricultura – hoje nas mãos dos ruralistas – na gestão dos agrotóxicos. A turma liberalizante defende o conceito de “pesticidas” para mostrar através de um eufemismo que, num país tropical como o Brasil, não há agricultura de extensão viável sem o controle das doenças que afetam a produtividade.

Quem já se identifica com uma dessas correntes, encontrou mais facilidade para escolher em que lado ficar. Mas, como consumidor leigo, me sinto perdido. Diante da saraivada de argumentos, a primeira pergunta que me ocorre é: afinal de contas, por que precisamos de uma lei para flexibilizar as regras para fiscalização e utilização de agrotóxicos?

Não! Não precisamos flexibilizar as regras – dizem os que estão sentados à esquerda, porque acreditam que só o controle rigoroso das práticas adotadas pelo agronegócio pode coibir o uso indiscriminado de produtos tão perigosos e prejudiciais à saúde. Isso seria um retrocesso!

Sim! Precisamos flexibilizar – dizem lá da direita, porque acreditam que os altos investimentos que são feitos em pesquisa e desenvolvimento se afogam no mar de burocracia que impede a rápida adoção de produtos mais baratos e menos agressivos à saúde e ao meio ambiente. Isso seria um avanço!

Nessa queda de braço, parece que estamos só no primeiro round. Ainda vem muita discussão pela frente. E isso é ótimo! Até que o poder legislativo bata o seu martelo, temos a oportunidade de conhecer mais detalhes sobre esse tema tão complexo e formar uma opinião mais consistente.

Confesso que, nesse estágio atual da discussão, estou longe de querer ser um formador de opinião. Ao contrário, estou mais interessado em aprender. Prometo me aprofundar no assunto, partindo de três linhas de raciocínio que me parecem sensatas:

1 – O foco não é o agrotóxico, mas sim o combate às pragas! São elas que diminuem a produtividade e afetam o fator custo. Há outros meios e tecnologias mais inteligentes e menos prejudiciais para combate-las? Quem está investindo em pesquisa e desenvolvimento?

2 – Capacitar e treinar os produtores no uso correto e consciente dos agrotóxicos e disseminar o uso de práticas alternativas para o manejo de pragas é muito mais inteligente! Como fazer para diminuir cada vez mais o uso de veneno e aumentar cada vez mais a adoção das boas práticas orgânicas? Quem está investindo em formação e capacitação?

3 – Tratar o consumidor com respeito e transparência é essencial para criar um mercado mais consciente e menos predatório. É o consumidor que decide o que colocar à mesa. Ele sabe por que está pagando mais barato por um determinado produto? Sabe por que um produto saudável custa mais caro? Quem está investindo em educação?

Um artigo que começou com uma pergunta descabida, só poderia terminar mesmo com uma infinidade de outras perguntas. Mas olhando com atenção, o leitor vai observar que, além de botar mais lenha para aquecer essa discussão, consegui outra proeza: fiquei em cima do muro – Nem à esquerda, nem à direita. Muito pelo contrário!

Bem, para aqueles que exigem um posicionamento, minha resposta é: estou do lado dos orgânicos e sustentáveis! Tenho três tipos de arrepios diferentes quando ouço a palavra agrotóxico, acredito que a rastreabilidade é um verdadeiro sopro de modernidade, aceito o valor que a preservação ambiental agrega nos meus hábitos de consumo e entendo o alcance social das minhas escolhas. Prefiro os orgânicos e sustentáveis.

Fabio Belik
Organis – Projetos Especiais

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