“E se é a nossa realidade, ou parte importante dela, é diferente do que nos pintam, como surgiu a imagem do brasileiro como uma espécie de maníaco da motosserra? Eis aí o nosso problema, estamos perdendo a guerra da comunicação que, aliás, a maioria nem se dá conta de que está acontecendo”

Publicado originalmente na revista Globo Rural em outubro de 2020

Vamos arrancar o rótulo que querem nos colar e trocá-lo pelos nossos muitos aspectos modernos e sustentáveis, os bons exemplos vindos de todos os setores da agricultura

Quando a comunicação solta faíscas, o diálogo pega fogo. E o país, infelizmente, está vivendo um momento assim

A agricultura brasileira acabou caindo no centro de uma fogueira de dimensões globais, na qual a mídia e a opinião pública internacional nos retratam como uns bárbaros que desprezam a natureza. Isso pode até ser uma grande mentira, mas a verdade clara é que estamos perdendo essa batalha de percepção e nos colocando em risco no mercado internacional.

E se o maior patrimônio de um país é sua imagem, por que estamos dando margem (desmatada) para falarem mal da gente? Isso quando podemos ter uma imagem forte diante do mundo, bastando nos conhecermos, nos gostarmos, nos comportarmos conforme queremos ser vistos.

Adiantando o raciocínio, uma pergunta: o agricultor brasileiro é um destruidor de florestas? E a resposta é, definitivamente, não, segundo alguns dados oficiais. Apenas como um exemplo mais vistoso, os produtores rurais do Brasil são responsáveis pela manutenção de 218 milhões de hectares de mata nativa em suas propriedades. Um número que significa 25,6 % do território nacional. Como é, então, que os piromaníacos falam mais alto?

E se é a nossa realidade, ou parte importante dela, é diferente do que nos pintam, como surgiu a imagem do brasileiro como uma espécie de maníaco da motosserra? Eis aí o nosso problema, estamos perdendo a guerra da comunicação que, aliás, a maioria nem se dá conta de que está acontecendo.

Somos a galinha que coloca o ovo, mas não canta e o que é pior, deixa que uma minoria retrógrada e barulhenta represente a imagem do nosso país. Para calá-los, ou, ao menos, reduzir a um nível civilizado o volume do ruído que provocam, bastaria tomar uma atitude drástica: simplesmente aplicar as leis do país. Mas esse é assunto para outro artigo.

E temos armas para reagir? Claro, e mais que isso, podemos partir com velocidade para o contra-ataque, em ritmo de decisão, colocando em campo as várias facetas do que o país tem de mais bonito. Vamos arrancar o rótulo que querem nos colar e trocá-lo pelos nossos muitos aspectos modernos e sustentáveis, os bons exemplos vindos de todos os setores da agricultura.

E uma das melhores táticas para apagar esse incêndio e equilibrar a batalha pela opinião pública mundial está em utilizar bem o talento do setor dos orgânicos nacionais. Aqueles que, por norma e compromisso pessoal, respeitam a natureza das pessoas e do meio ambiente. Aqueles que não apenas preservam a terra, mas a deixam melhor, mais viva, e mais produtiva a cada colheita. Aqueles que não agridem as plantas e os animais, que não poluem o ar e nem contaminam as fontes de água. Aqueles que produzem, distribuem e comercializam sem causar desequilíbrios sociais no entorno dos seus negócios e conseguem crescer sempre em presença e reputação nos mercados nacional e internacional.

Eles são os nossos combativos e incansáveis orgânicos que, com sua perseverança e generosidade, dividem e divulgam suas técnicas, valores e saberes com todos e, assim, vêm espalhando sua influência, inclusive, na agricultura convencional, reforçando com muitos novos integrantes os batalhões dos produtores social e ambientalmente responsáveis.

Temos um problema? Sim. Temos responsabilidade por deixar que poucos tomem a nossa bandeira e manchem nossa imagem? Claro que temos e precisamos assumir. E que tal começar agora mesmo a exibir ao mundo, com orgulho, as conquistas de nossos produtores orgânicos? Eles são parte importante da solução. Pois, se alimentar o mundo é bom, alimentar com o que só faz bem é muito melhor.

Clauber Cobi Cruz
Diretor da Organis – Associação de Promoção dos Orgânicos

Compartilhar