“Os benefícios da agricultura orgânica: menor impacto ao meio ambiente, seja pela menor emissão de carbono, seja pela não utilização de agrotóxicos; maior resiliência da lavoura em tempos de seca; maior retorno financeiro da atividade agrícola, gerando, com isso, maior reconhecimento do trabalho duro de quem mora no campo.”

Acredito que a palavra “transição” repercute de alguma forma em cada um de nós nos dias de hoje. A forma como estávamos vivendo mudou. Por mais que lutemos para voltar ao que considerávamos normal até o início deste ano, as coisas não serão mais como antes. E ficamos aflitos porque queremos saber como serão as novas dinâmicas e como isso impactará as nossas vidas, os nossos negócios e, para aqueles que se importam, o nosso planeta. Portanto, quer a gente queira ou não, o mundo está em transição.

Transição: palavra também oportuna quando falamos de produtos e alimentos orgânicos. Ao longo do tempo, os modelos de produção agrícola já passaram por algumas rupturas.

No início do século XX, a inovação que permitiu transformar nitrogênio atmosférico em amônia, com uso intensivo de energia, fez com que a fertilidade do solo passasse a depender de combustíveis fósseis. A proclamada “Revolução Verde” do pós Segunda Guerra Mundial, que incentivou a introdução de novas moléculas químicas no campo, uso massivo de insumos químicos, a manipulação genética das plantas e o emprego de técnicas de irrigação e de máquinas, mudou o perfil de produção de alimentos entregando maior produtividade, em larga escala.

Porém, a partir dessa revolução ficou para trás uma singela equação: solo saudável = alimentos saudáveis = pessoas saudáveis. E nessa linha podemos incorporar planeta saudável. Esta é uma explicação simples para ilustrar o que representa a transição para orgânico. Sem saudosismo, ou como uma simples volta ao passado, mas considerando também os avanços das últimas décadas neste modelo de produção mais sustentável, em todos os seus aspectos, principalmente para a agricultura familiar.

Os benefícios da agricultura orgânica e da alimentação orgânica são objeto de extensa pesquisa realizada pelo Rodale Institute. Ao longo de quase 40 anos, este instituto de pesquisa e educação localizado no estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos, tem conduzido pesquisas baseadas em comparações lado a lado entre as práticas agrícolas convencionais e os plantios de orgânico.

Os quadros a seguir trazem uma síntese dos benefícios das práticas orgânicas:

Cerca de 4 décadas de pesquisa do Rodale Institute demonstram que os sistemas de produção agrícolas orgânicos:

Fonte: Rodale Institute – Rodale Institute (acessado em 12/08/20), traduzido livremente por Flourish [Negócios com Propósito] 

Nesses tempos em que lidamos com uma avalanche de informação e desinformação, este quadro é um grande achado para o multi-spectrum da discussão sobre os benefícios da agricultura orgânica: menor impacto ao meio ambiente, seja pela menor emissão de carbono, seja pela não utilização de agrotóxicos; maior resiliência da lavoura em tempos de seca; maior retorno financeiro da atividade agrícola, gerando, com isso, maior reconhecimento do trabalho duro de quem mora no campo.

Notem, no entanto, que este retorno maior não acontece da noite para o dia. Na verdade, para culturas perenes ou de ciclos mais longos, ele só começa a ser percebido a partir do terceiro ano, quando a produção passa a receber o prêmio completo pago a produtos orgânicos. Após cinco anos, há perspectiva de um benefício ainda maior, com equiparação da produtividade aos padrões da produção convencional.

Como na grande jornada da criação da marca Native, tema da publicação da Flourish deste mês, e de publicações que estão por vir, no processo de transição para orgânico de pequenos produtores brasileiros existe um grande desafio: transpor a perda de produtividade dos primeiros anos dessa jornada.

Auxiliar os agricultores nesse processo inclui suporte técnico específico, mas também um tipo de suporte financeiro. Porém, no Brasil não há instrumentos de financiamento para lidar com as necessidades específicas do período da transição. Assim, além de estabelecer uma discussão madura e bem-informada sobre o que esperar da transição de um modelo de produção agrícola convencional para o orgânico, é fundamental falar das “pontes” para fazer esta transição mais suave.

Em tempos de descontinuidade como o que estamos vivendo hoje, nada mais oportuno que questionarmos velhas premissas e construir caminhos para um futuro mais saudável e sustentável!

Gustavo Mamão
Fundador Flourish [Negócios com Propósito]
gustavo@flourishnegocios.com.br
flourishnegocios.com.br

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