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“O sucesso de uma intervenção depende da condição interior daquele que interfere”
Bill O’Brien
A maioria dos agricultores dos países mais desenvolvidos só têm experiência na produção de alimentos usando métodos ortodoxos de produção que requerem constantes aumentos em quantidade e potência de fertilizantes químicos e pesticidas, além de gerarem total dependência de sementes compradas.
Se você estiver lendo esse artigo, deve estar mais ou menos ciente que existem sistemas de gerenciamento agrícolas regenerativos que têm tanto ou mais a oferecer do que os sistemas convencionais. Ou seja, eles geram colheitas recordes, maior integridade nutricional, resistência a pragas e doenças, microbiotas vigorosas, custo reduzido, maior lucratividade, menores riscos climáticos, melhor uso da água, ecossistemas íntegros, maior fixação de carbono no solo, melhores prognósticos de saúde pública, entre tantos outros benefícios.
É claro que, à medida em que comprovamos o incrível potencial e as oportunidades ainda inexploradas nesse campo, é natural que queiramos compartilhar com outros agricultores e demais atores do meio agrícola todo esse entusiasmo, experiência e informações que estamos constantemente adquirindo.
Sabemos que vários produtores estão indo além de seus limites e vivendo, de diversas maneiras, os malefícios do excesso de trabalho e preocupações. A maioria está com dificuldades em atingir as suas metas, cumprir suas obrigações financeiras e sem tempo para si, suas famílias e seus amigos.
Por isso, quanto mais experimentamos na prática as imensas possibilidades da nova agricultura regenerativa, mais forte nos surge o desejo de compartilhar os nossos resultados com os demais.
Porém, se quisermos acelerar as mudanças, torna-se de extrema importância reconhecer que a receptividade às ideias novas ou diferentes não tem nada a ver com os seus possíveis benefícios. Resumindo, produzir em uma pessoa ou grupo social a abertura a um enfoque inédito não tem nada que ver com a sua própria habilidade na implementação ou no lançamento dessa nova ideia.
Todas as vezes que tentamos guiar alguém numa direção diferente, nós nos engajamos num determinado tipo de intervenção. Até mesmo em questões triviais como o que fazer para o jantar ou que tipo de camisa vestir.
O resultado dessa intervenção não tem nada que ver com as habilidades do interventor. Tem tudo a ver com o meio do qual a intervenção é proveniente.
Você pode ser o carpinteiro mais habilidoso na sua região e, ao mesmo tempo, não ser capaz de orientar os construtores a sequer considerar importantes os melhoramentos que deseja implementar na obra.
Você pode ser o agrônomo mais capacitado do estado, mas não ser capaz de fazer com que os agricultores considerem mudar as suas práticas agrícolas inadequadas.
E você pode ser um agricultor regenerativo de sucesso, porém produzir poucas mudanças nos vizinhos que o observam e escutam.
Por que?
Devido ao fato de que a nossa habilidade em facilitar as mudanças nas outras pessoas não está ligada diretamente com nossas competências ou conhecimentos. Ao contrário, ela depende do nosso estado interior, ou de onde a nossa intervenção está partindo.
Quando nossa intervenção parte de um estado interior de compaixão, apreciação, amor, respeito, afeto, os outros sentirão isso e, então, serão mais propensos a responder, a serem mais abertos, mais maleáveis, vulneráveis. Sem medo de serem julgados, os outros podem se engajar com as nossas propostas em um nível mais profundo, justamente aquele que é imprescindível para produzir as verdadeiras mudanças.
Quando nossas intervenções partem de um lugar interior que observa e julga, isso também é igualmente sentido e fechará as aberturas, as oportunidades para que você e a outra pessoa efetivamente se escutem.
Por isso, se quisermos facilitar as mudanças que acreditamos benéficas para nossos amigos, vizinhos, colegas e todas as pessoas com as quais nos preocupamos e gostamos, não é produtivo nos engajarmos em discussões sobre o que consideramos “mau”. É muito mais poderoso ser a favor de alguma coisa do que ser contra outra.
Ser o “anti” pode nos dar um estímulo energético momentâneo, em decorrência de toda a adrenalina liberada, mas não vai, definitivamente, inspirar as pessoas a mudarem. O simples fato de comprovar com dados e argumentos os porquês de ser anti OGM, anti-glifosato, anti-aração, anti-monocultura, anti-certos fertilizantes químicos, na maioria das vezes não produz efeitos produtivos.
A comunidade agrícola não precisa que você seja um mestre ou um juiz, mas um líder. Que se engaje em discussões autênticas, positivas, nas quais a sua intervenção venha de um lugar interior que inspire as tão necessárias mudanças.
Você está pronto a “entrar” nesse novo local interior?