Quem visitou a BioBrazil | BioFach este ano, vibrou com os orgânicos em movimento. Ficou com a certeza de que o mercado de orgânicos, naturais e saudáveis segue num crescimento sem volta, com forte tendência de expansão. Segundo pesquisa da Apas, 46% dos consumidores gostariam de ver mais produtos destas linhas nas gôndolas dos supermercados.
Mais de 44 mil pessoas circularam durante os quatro dias de feira, testemunhando pelos estandes e corredores os sinais do amadurecimento do nosso setor. Eles ficaram evidentes não só na qualidade e na variedade dos produtos apresentados, mas também na linguagem jovem utilizada na comunicação das embalagens, das identidades visuais e do design dos estandes.
A feira parecia uma ilha de exuberância, movimentando um volume de negócios que contrastou com a crise econômica atravessada pelo nosso país. Jovens empreendedores e suas startups, interagiram com os empreendedores maduros, que se valem da experiência para desenvolver excelentes marcas e produtos. Por todos os lados despontaram inovações, buscando atender consumidores cada vez mais preocupados em degustar o sabor intrínseco aos alimentos mais sofisticados, produzidos de forma natural, menos processados, sem agrotóxicos.
Circulando pela BioBrasil | BioFach, o que se viu foram consumidores interessados cada vez mais em saber como as coisas são feitas e quem elas beneficiam. Uma geração jovem, que admite coisas imperfeitas e ao mesmo tempo mostra senso crítico para reivindicar menos plásticos e mais biodegradáveis, menos açúcar e mais sabor do cacau, menos política de aparência e mais atitude…
Nesta curta história dos orgânicos, arrisco a dizer que foram dois os episódios mais importantes: o marco legal de 2011, quando entrou em vigor a lei 10.831, que regulamentou a produção orgânica no Brasil, e este marco de 2019, quando os orgânicos finalmente se firmam como um setor e que se movimenta por si próprio. Neste ano, estamos vivendo uma sutil transição dos movimentos orgânicos para os orgânicos em movimento!
Mas precisamos ficar atentos: contar com uma entidade setorial ativa e institucionalmente representativa é de extrema importância. No bom negócio do bem, o mau negócio sempre fica à espreita, afinal, não existem os espaços vazios. Quando ocupamos um espaço, alguém está perdendo lugar. Se abrirmos espaço, ele será ocupado imediatamente.
É pouco provável que a expressão “organic or die” vingue como verdade absoluta. Mas é certo que aquelas empresas que ainda não pensaram em lançar pelo menos uma linha de orgânicos, deixarão de atender fatias cada vez mais significativas de consumidores conscientes, exigentes e formadores de opinião.
O setor precisa investir em comunicação. Seja para explicar para o grande público o que vem a ser de fato um produto orgânico, seja para estimular o engajamento nas causas do bem, relacionadas às boas práticas orgânicas. A percepção do brasileiro sobre os produtos orgânicos ainda é um tanto difusa. Os resultados da Pesquisa Consumidor Orgânico 2019, que serão divulgados em breve pelo Organis, desenharão um retrato mais preciso e ajudarão o setor a melhorar o seu foco.
Ainda há muito chão para percorrer. Precisamos educar e sensibilizar os consumidores de todas as faixas etárias. Precisamos melhorar o entendimento quanto à importância da certificação. Precisamos refinar os números do setor, para atrair investidores e estimular a produção. A demanda por produtos orgânicos com certeza crescerá na casa dos dois dígitos nos próximos anos. Precisamos atende-la!
Na medida em que o setor vai ganhando musculatura, o acesso aos orgânicos vai ficando mais democrático. Temos motivos de sobra para comemorar, mas ainda há diversos gargalos na cadeia: barreiras culturais, carência de insumos, dificuldade de acesso à assistência técnica, logística onerosa, falta de educação alimentar, etc.
Ainda assim, podemos falar de boca cheia (de alimentos orgânicos preferencialmente): podemos ter um Brasil cada vez mais orgânico e sustentável! Bora Brasil, que tem chão!