Jogando mais lenha na fogueira da discussão do preço dos orgânicos
Motivada pelo último artigo do jornalista Chico Junior publicado pela Organis sobre o preço dos alimentos orgânicos, vou jogar um pouco mais de elementos nessa discussão, com base na minha curta experiência e em relatos de outros produtores rurais.
Quando me questionam sobre o preço dos produtos orgânicos, algumas vezes, sendo até um pouco rude, eu respondo: o convencional é que é muito barato. O orgânico tem um preço mais justo para produtor rural.
Por que eu digo isso? Eu vivo em uma região do estado de São Paulo onde há um grande número de pequenos e médios agricultores convencionais e vejo o sofrimento de muitos deles com o preço de venda da sua produção. Eles só ganham dinheiro quando conseguem produzir na entressafra ou quando o agricultor de uma outra região (no país ou até no exterior) teve prejuízo. A falta de produto faz o preço subir, e o prejuízo de um se torna a alegria de outro. Não deveria ser assim.
Para explicar melhor, vou citar dois exemplos. Em 2018, um saco de cebola de 40kg chegou a R$ 6,00 “na roça” – preço pago ao agricultor. Aqui na minha região, o custo mínimo de produção de um saco de cebola é de R$ 20,00. A conta não fecha. No ano passado, os produtores de cebola de Minas Gerais e da Bahia perderam a produção devido ao excesso de chuvas e o saco de cebola chegou a R$ 120,00. Outro exemplo é o preço do limão. O custo de produção de uma caixa de limão convencional gira entre R$ 18,00 e R$ 25,00. Uma caixa com 27kg de limão vale entre R$ 10,00 e R$ 18,00 nos primeiros meses do ano, na safra. No final do ano, geralmente em setembro e outubro, quando a produção é baixa, a caixa chega a R$ 100,00. Quem tem recursos para investir e produzir na entressafra consegue “fazer o ano” – expressão usada pelos agricultores quando a produção é lucrativa.
Eu poderia citar outros exemplos, mas não vou me estender nesse ponto. O que eu quero dizer é que o preço do orgânico é mais justo para o produtor. Oferece um pouco mais de estabilidade e tranquilidade financeira.
Deixando de lado o fato de que é mais caro produzir orgânico que um alimento convencional, além de todos os ganhos sociais e ambientais envolvidos, ouso dizer que muitas vezes há um certo abuso no preço dos orgânicos. E vou deixar aqui dois exemplos. Um meu e outro de uma colega. Eu entrego maracujá na porta de uma loja especializada em orgânicos por R$ 6,00 o kg, e o preço para o consumidor final é de R$ 18,00 o kg. Minha colega estava entregando alface embalado em plástico biodegradável em uma outra loja a R$ 2,60 o maço, e o preço para o consumidor final era de R$ 8,00.
Portanto, há espaço para reduzir o preço dos orgânicos sem onerar o produtor. Eu concordo com o Chico Junior de que investir na agricultura familiar pode contribuir para reduzir o preço dos orgânicos. Isso pode, inclusive, ajudar a evitar abusos como os dos exemplos acima.
Por outro lado, nós que atuamos no setor precisamos cuidar para que os produtores familiares que trabalham com orgânicos não enfrentem as mesmas dificuldades que os produtores familiares que cultivam alimentos convencionais. Para isso é necessário manter a estabilidade dos preços pago aos agricultores durante todo o ano, como já acontece. Os valores também oscilam, mas dentro de limites toleráveis. Outro ponto a evitar é o aumento de intermediários na cadeia logística. O ideal é a manutenção de um intermediário entre o produtor e o ponto de venda, como está estabelecida a maior fatia da logística de distribuição de orgânicos atualmente.