“Acreditamos que é possível melhorar a vida das pessoas e manter a natureza em pé ganhando dinheiro”, afirma Ulisses Sabará, presidente do Grupo Sabará. Ele conta que uma das maiores satisfações que teve foi entrar na loja de um cliente na avenida Champs Elysées, em Paris, e saber que o produto vinha da dona Flora. “É uma relação em que todos ganham.”

O mundo enfrenta hoje o desafio de ser verdadeiramente sustentável. É urgente a necessidade de ações que preservem a natureza para evitar uma catástrofe climática e, ao mesmo tempo, gerem desenvolvimento social e econômico. 

Tanto que o termo ESG, que estabelece indicadores e resultados ligados ao ambiental (Environmental), social (Social) e à governança (Governance) das empresas, ganha cada vez mais força. Neste sentido, os orgânicos estão na dianteira, uma vez que carregam em sua essência todos os valores de uma gestão ESG e são fonte de histórias inspiradoras. 

Uma dessas histórias é a do Grupo Sabará, associado da Organis, que tem a sustentabilidade em seu DNA e foi a primeira indústria química do país a emitir um green bond. O grupo é proprietário de duas empresas que fornecem ingredientes orgânicos para a indústria alimentícia e de cosméticos: a Concepta e a Beraca (30% do capital da Beraca é da empresa suíça Clariant). Juntas, elas responderam por 31% dos R$ 274,5 milhões de faturamento do grupo em 2020. 

A história dessas duas empresas se mistura às histórias de pequenos grupos, associações e cooperativas orgânicas que fornecem as matérias primas destinadas à indústria alimentícia e cosmética, em um exemplo de como impulsionar negócios economicamente promissores conservando a natureza. Uma cadeia de prosperidade que beneficia aproximadamente seis mil famílias distribuídas em três biomas (Amazônia, Cerrado e Caatinga) e sete estados brasileiros. 

“Acreditamos que é possível melhorar a vida das pessoas e manter a natureza em pé ganhando dinheiro”, afirma Ulisses Sabará, presidente do Grupo Sabará. Ele conta que uma das maiores satisfações que teve foi entrar na loja de um cliente na avenida Champs Elysées, em Paris, e saber que o produto vinha da dona Flora. “É uma relação em que todos ganham”. 

A dona Flora é uma das fundadoras da Coopemaflima (Cooperativa dos produtores extrativistas florestais e marinho da Ilha do Marajó), no Pará. O grupo de mulheres coleta sementes nas praias da Ilha do Marajó e as transformam em óleo para a indústria cosmética. Antes, as sementes eram amontoadas e queimadas pela prefeitura. 

“Sabíamos que era uma prática das famílias coletar sementes. Mudamos essa relação de coleta incentivando para que coletassem as sementes certas, como andiroba e ucuuba, e começamos comprando por quilo. Hoje, elas têm uma planta de extração de óleos que, junto com outro parceiro, demos o impulso financeiro inicial para construir”, diz o executivo.

A relação entre a empresa e a cooperativa tem mais de 20 anos e o grupo possui uma linha de produtos orgânicos. “Mudaram de vida. Os filhos já estão formados na faculdade”. 

Outra história de formação de uma cadeia de prosperidade é a da Aprafamta (Associação dos Produtores e Produtoras Rurais da Agricultura Familiar do município de Tomé-Açu), no Pará. Um encontro casual, em um boteco, levou à formação de uma parceria de sucesso. 

“Estávamos em busca de um fornecedor de castanha de cupuaçu e encontramos esse grupo. Eles vendiam o cupuaçu na safra e acreditavam que não tinham um bom produto por falta de recursos para investir em adubação. Mas o que eles tinham era justamente o que nós precisávamos”, lembra Sabará. 

A parceria iniciou com a compra de freezers pelo Grupo Sabará para que os produtores armazenassem a polpa de cupuaçu, seguida pelo incentivo para certificação orgânica. “Nós comprávamos a semente do cupuaçu, um resíduo da produção deles”, diz. 

Hoje, a cooperativa já fornece o óleo de cupuaçu orgânico e tem uma indústria de polpa de frutas orgânicas, que vendem para outras empresas. “Incentivamos o múltiplo uso da floresta. Quanto mais organizados e estruturados eles estiverem, melhor para nós”. 

De acordo com Ulisses Sabará, o investimento financeiro inicial para impulsionar pequenos negócios é fundamental. “O que precisa ser feito para impulsionar essa cadeia de valor, em que todos ganham, é ir rompendo barreiras e aportar incentivo financeiro. A certificação orgânica valida esse trabalho, pois incute uma série de boas práticas chancelada por um terceiro”, afirma Sabará. 

O Desafio de certificar uma floresta

A busca pela certificação orgânica das comunidades extrativistas pelas empresas de ingredientes cosméticos e alimentícios pelo Grupo Sabará iniciou em 2004 e foi um desafio. “Na época, tivemos que criar diretrizes. Produto extrativista é orgânico por definição, a certificação é para as práticas envolvidas no processo”. 

Algumas dessas diretrizes são a delimitação da área de floresta que pode ser explorada para coleta das matérias primas e o estabelecimento de práticas do pós-coleta, como descarte de resíduo, processamento e armazenamento. 

“A certificação orgânica serve de balizador, não só por não usar agrotóxicos, mas para agregar práticas sustentáveis e saudáveis na relação entre as pessoas e com o meio ambiente, seja ela extrativista ou de plantio. Por isso eu sou fã do orgânico”, afirma o executivo. 

A empresa oferece suporte financeiro para certificação orgânica dos grupos aliado a um trabalho de conscientização, treinamento e acompanhamento técnico para adequação das práticas de manejo. 

Todos os fornecedores da Concepta e Beraca trabalham apenas com produtos não madeireiros: castanhas, galhos, folhas e raízes. 

ODS 15 – Vida na Terra

Em 2016, Ulisses Sabará, foi reconhecido como Local SDG Pioneer pela Conferência de Líderes do Pacto Global da ONU, por sua atuação em prol do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 15: Vida na Terra, dedicado a proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e a preda da biodiversidade.

Por Milena Miziara
Assessora de Imprensa na Organis – Associação de Promoção dos Orgânicos

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