“Os produtores orgânicos sustentam que há diferenças nutricionais significativas quando comparam seus produtos àqueles oriundos dos sistemas convencionais.”

Na indústria de alimentos, o vilão da vez atende por um nome longo e complicado: Ultraprocessado Aditivado Sinteticamente e Saborizado Artificialmente. O consumidor são sabe identificá-lo com precisão – apenas viu um de seus retratos-falados. Mas está em estado de alerta. Passeia pelas gôndolas dos supermercados com cautela, pois tem consciência de que o malévolo se disfarça com a ajuda de embalagens sedutoras e multicoloridas.

Os mocinhos da história são muitos e barulhentos. Gritam seus atributos com segurança, para mostrar que são eles os bravos defensores da boa alimentação: Natural! Vegano! Orgânico! Saudável! Funcional! Integral! O consumidor cai nos braços ora de um, ora de outro, mas sem jurar fidelidade eterna. Qual categoria de produtos derrotará o vilão?

Nas gôndolas, há espaço para todas elas e com certeza muitas outras categorias serão criadas para atender a demanda crescente por produtos saudáveis. No entanto, entre os mocinhos, há um que não se encaixa confortavelmente nessa classificação por categorias: refiro-me ao produto orgânico.

Pouquíssimos consumidores já perceberam que o orgânico não é propriamente uma categoria de produto. Não é para menos, afinal, o mercado de alimentos processados é pródigo em gerar diferenciais e apelos comerciais para segmentar e atrair consumidores. Muitos acabam vendo o orgânico como apenas mais um item dessa longa lista.

O fato é que um produto pode ser, por exemplo, orgânico e integral ao mesmo tempo. Ou pode ser orgânico e natural, orgânico e sem colesterol, orgânico e sem glúten, tudo ao mesmo tempo. Mas por outro lado, um alimento dito integral não é, automaticamente, um alimento orgânico. Para ser orgânico, ele precisa ir além. Precisa ser certificado!

Orgânico, portanto, não é uma categoria de produtos. É um conceito bem mais amplo. Pegue um produto qualquer de sua preferência. Arroz, por exemplo! Ele pode ser integral, produzido de forma natural, não conter glúten nem gordura trans. Todos esses atributos fazem desse arroz um produto saudável e saboroso, perfeito para compor uma refeição digna de levar esse nome.

Agora coloque nesse arroz o selo de orgânico! Ele continua sendo o mesmo produto, com todas as características que o consumidor estava procurando, só que agora traz um adicional importante: por ter recebido o selo de certificação, ele comprovadamente foi produzido sem o uso de agrotóxicos, com total respeito ao meio ambiente, às práticas sustentáveis, à saúde dos trabalhadores e às características socioculturais das comunidades locais.

Esse é o grande superpoder do selo de orgânico! Mostra ao consumidor que, além de saúde, está comprando um benefício coletivo, que faz bem para toda a sociedade e também para o planeta. Estes valores ambientais fazem o verdadeiro sentido que sustenta o conceito de orgânico.

Os produtores orgânicos sustentam que há diferenças nutricionais significativas quando comparam seus produtos àqueles oriundos dos sistemas convencionais. Porém, há um fato indiscutível: as técnicas agrícolas orgânicas, que não utilizam agrotóxicos sintéticos, transgênicos ou fertilizantes químicos, ajudam a manter as qualidades naturais e o sabor dos alimentos.

Além disso, o fato de não ingerir resíduos de agrotóxicos traz benefícios diretos para a saúde das pessoas. Na produção orgânica de animais, que são alimentados apenas com produtos orgânicos e sem o uso de antibióticos ou hormônios artificiais, esses benefícios também são evidentes.

Se quisermos vencer o duelo da boa refeição, nós consumidores temos que aprender de uma vez por todas: o selo de orgânico estampado na embalagem de um produto faz muita diferença. Quando consumimos orgânicos, estamos contribuindo para promover o uso de práticas sustentáveis, como a rotação de culturas, adubação verde, proteção das matas ciliares, promoção da biodiversidade, preservação dos pássaros, insetos e também de toda a fauna presente nos nossos biomas. É ou não é um diferencial e tanto?

Fabio Belik
Organis – Coordenador de Projetos Especiais

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