“Quem quer fornecer produtos orgânicos tem que investir na preparação do solo, fazer uso correto dos insumos, preservar os recursos naturais, fazer o manejo inteligente das pragas, garantir a saúde dos trabalhadores…”

Em recente artigo intitulado “Dinossauros e Drones”, publicado em grande revista de circulação nacional, o ex-ministro da agricultura Roberto Rodrigues fala com propriedade da revolução tecnológica que está em curso na agricultura. Explica como a tecnologia tem sido decisiva para aumentar a produtividade no campo, reduzindo a demanda por terras agricultáveis e estimulando a adoção de soluções menos agressivas ao meio ambiente. 

Mas, de acordo com Roberto Rodrigues, é muito provável que apenas os grandes produtores, com recursos para investir nos novos aparatos tecnológicos – especialmente aqueles ligados à tecnologia da informação – acabarão se beneficiando dessa revolução, colhendo os benefícios do aumento de produtividade.

Cá entre nós, aumento de produtividade é tudo o que se quer, quando nos dedicamos à produção de alimentos para abastecer nossas populações. Porém, ela acaba produzindo um efeito colateral perverso: derruba os preços com o aumento da oferta. Para o grande produtor, que ganha na escala, está tudo bem. Já para o pequeno produtor, sem acesso às tecnologias que o ajudam a reduzir custos, o impacto na receita é fatal.

Como os pequenos podem conviver com essa perda de competitividade? Roberto Rodrigues segue sua exposição, com seus bem fundamentados argumentos, traçando um panorama sistêmico da questão tecnologia na agricultura. Já nós, nesse presente artigo, vamos seguir em outra direção, mais relacionada com a agricultura orgânica.

A agricultura orgânica é, por excelência, território do pequeno produtor, embora haja empreendimentos em diversos segmentos focalizando a produção em grande escala. O fato é que as práticas orgânicas se desenvolveram como meio de promoção e desenvolvimento socioeconômico dos pequenos agricultores locais e suas estreitas redes de comercialização.

O conceito de orgânico agregou um enorme valor aos produtos locais. Neles, o consumidor percebe mais sabor e qualidade, associando-os com a segurança alimentar, consciência ambiental e, é claro, ausência de agrotóxicos. Por isso, cultivar orgânicos está se tornando um ótimo diferencial competitivo. O valor agregado já começa a ser percebido e quantificado pelos consumidores com mais clareza. Quando adquirem um produto orgânico, eles compram também os benefícios ao meio ambiente, à saúde e à sustentabilidade das comunidades locais.

Porém, todos esses benefícios custam, e muito! Quem quer fornecer produtos orgânicos tem que investir na preparação do solo, fazer uso correto dos insumos, preservar os recursos naturais, fazer o manejo inteligente das pragas, garantir a saúde dos trabalhadores, gerir uma logística complexa que exige transporte e armazenamento especiais, além de muitas outras práticas. Ou seja: quem deseja fornecer orgânicos, tem que provar que faz tudo isso. Tem que obter a certificação!

O produtor orgânico sempre teve que suar mais a camisa. Primeiro, para cumprir as exigências da legislação e manter seus custos dentro de horizontes competitivos. Depois, para fazer com que o consumidor enxergue os diferenciais do seu produto e perceba o valor agregado que ele traz. E agora, para complicar, vem essa tal de revolução tecnológica e torna todo esse cenário ainda mais competitivo!

Porém, na agricultura orientada pela lógica da produtividade, onde a meta é produzir mais gastando cada vez menos, o papel da tecnologia é o de reduzir os custos operacionais. Ela é transparente para o consumidor final. Não aparece. Não é percebida. Tanto faz se o agricultor usa drones ou acompanha a produção das suas máquinas pelo celular. Os benefícios da tecnologia, aparentemente, ficam só com o agricultor.

Por outro lado, na agricultura orientada pela lógica da sustentabilidade, a tecnologia precisa ter, ela mesma, um valor agregado. As soluções ambientais que ela traz precisam ser percebidas como inovações que beneficiam a coletividade. Devem ser palpáveis. Podem ser apresentadas como diferenciais relevantes. O consumidor também deve se sentir beneficiado pela tecnologia.

Portanto, para quem está no mercado de orgânicos, engajado em causas coletivas e acostumado a cultivar atitudes saudáveis e ambientalmente corretas, investir em tecnologia é mais do que uma questão de mera sobrevivência. É uma questão de posicionamento estratégico! Uma oportunidade de se diferenciar na mente do consumidor.

Longe de se comportar como os dinossauros lentos citados por Roberto Rodrigues em seu artigo, os orgânicos estão evoluindo rápido, incorporando muitas tecnologias que são acessíveis e viáveis, não só em benefício próprio, mas também em prol das futuras gerações que habitarão nosso planeta. 

Ah! E cabe observar ainda que Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, também é conselheiro do Organis – Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável. Foi durante sua gestão no Ministério da Agricultura que a Lei dos Orgânicos foi aprovada e implementada.

Fabio Belik
Organis – Projetos Especiais

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