“Trabalhamos sem cansaço, transformamos a terra maltratada e judiada em um verde exuberante. Reaproveitamos tudo que se pensa, fizemos coleta seletiva e o início do cultivo orgânico.”

Desde criança senti um enorme apego pela terra. Aos 14 anos, quando fui de certa forma trabalhar na indústria, fiquei profundamente triste pelo fato de não compreender porque não podia viver na terra onde meus antepassados criaram seus filhos. E não eram poucos! Agora meus pais não mais se dedicavam a viver.

Segui minha jornada em busca de aprender tudo que meus avós, e as pessoas que amavam a terra, tinham pra me oferecer. Criei em meu subconsciente um poderoso banco de dados, que mais tarde faria um download pra uso em específico momento.

Então minha amada esposa apareceu e o universo já nos preparava pro momento que vivemos hoje. Ela, filha de agricultores que também abandonavam o campo por não mais se identificar com a realidade da época.

Veio nosso primeiro filho e um problema de coluna me levou a uma cirurgia L5S1 na lombar. Tínhamos um pequeno sitiozinho que já era usado pra produzir leite. Era como uma epopeia o que vivíamos. Às 3:00 da manhã, de bicicleta, em total escuridão por falta de luz elétrica, eu ordenhava duas vacas e picava manualmente, à luz de velas, o pasto pra 4 animais. Em seguida, ia para a empresa e minha esposa vendia o leite pra ajudar. Mas tudo foi embora por não ter mais condições de saúde. E agora, um filho prematuro, com seu pai fadado à frustração pela doença. Lágrimas.

Fiquei pela primeira vez longe de minha amada família por longos 6 dias, a 500 km de casa, operado. Fiz uma profunda reflexão de tudo que estava acontecendo. Decidi renascer após a cirurgia. Não abandonaria meu objetivo: a terra. Me reeduquei, aprendi tudo que podia sobre como me reabilitar e comecei um processo de transição. Primeiro em meu coração, aguardando o lindo momento em que me libertaria do sistema. E Deus proveu um milagre: uma proposta que ninguém acreditará! Uma permuta onde a propriedade que estamos nos foi concedida durante um ano.

Iniciamos a transição e enfim realizei a conexão, que foi feita em total êxtase. Trabalhamos sem cansaço, transformamos a terra maltratada e judiada em um verde exuberante. Reaproveitamos tudo que se pensa, fizemos coleta seletiva e o início do cultivo orgânico. Logo nos chamaram de tudo que se possa pensar. Mas tudo bem, seguimos em frente, só entre nós. Novos amigos apareceram, técnicas, sementes e a mágica que só a natureza consegue realizar.

Atualmente participamos de uma feira. Ela nos revelou a sociedade que resultou em clientes pra venda direta em 2 cidades e nos rende bom salário. Nosso filho, hoje com 18 anos, é nosso braço forte. Está alinhado em ficar no campo, tem visão de crescimento pela atual demanda e se identifica com o projeto de nossas vidas.

Em 2015 a família aumentou, com nossa filha. Felizes e saudáveis, aceitos pela sociedade, com respeito a nós e ao nosso digno trabalho de amor à terra, definitivamente fincamos nesta localidade de monocultura do tabaco e cebola. Uma nova visão de futuro, onde com pouca terra muito se tira por respeito a mesma.

Iniciamos uma agrofloresta de 100 000 metros. Temos outros projetos em avaliação pro futuro. Logo serão implantados.

Peço desculpas pela extensão, mas escrevi um pouco de nossa vida real. Se der pra aproveitar, montem um texto do que acharem melhor.

Gratidão e boa noite.

Élito Fuckner
Agricultor Orgânico
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