“Quando tive que me aprofundar no assunto por força da profissão, percebi que a “marca” orgânico tem outros atributos que nem sempre enxergamos.”

Todo mundo sabe o que é um produto orgânico: não tem agrotóxico, é ecológico e custa mais caro. Como um leigo olhando para o universo dos orgânicos de fora, sempre me enquadrei nessa categoria do “todo mundo”. Mas, quando tive que me aprofundar no assunto por força da profissão, percebi que a “marca” orgânico tem outros atributos que nem sempre enxergamos. Dois deles chamaram minha atenção: a rastreabilidade e a responsabilidade social.

O primeiro trouxe uma aura de tecnologia e modernidade para o mundo dos orgânicos – aplicativos e geringonças que nos ajudam a conhecer a origem dos ingredientes que vamos consumir. O segundo revelou que há entre os produtores uma consciência planetária – o bem-estar e a remuneração justa daqueles que realmente colocam a mão na massa é tão importante quanto o bem-estar e a remuneração justa daqueles que investem seu capital para produzir.

Juntando estes dois conceitos aos já consagrados apelos à saúde e à preservação ambiental, confesso que a palavra “orgânico” virou para mim uma marca bem mais poderosa. Já não se trata apenas de pagar mais caro por um produto que não contém venenos e não provoca desmatamentos. Consumir um produto com selo orgânico passa a ser um gesto pragmático que me ajuda a assegurar a veracidade daquilo que estou adquirindo, e também um gesto político, no sentido de me permitir erguer algumas bandeiras que julgo importantes nesses tempos modernos e conturbados – a redução das desigualdades sociais e a meritocracia daqueles que investem suas energias para produzir mais e de forma mais produtiva.

Bastou entender um pouquinho dessa lógica dos orgânicos para perceber que o fator preço é resultado de cálculos bem mais complexos. Nos custos de produção vamos encontrar itens inusitados, como a felicidade das minhocas que não sucumbem com a compactação dos solos ou a tranquilidade das vacas “chipadas” que estão sempre em dia com a medicação ministrada no tempo certo.

Como leigo que comprou a ideia dos orgânicos, espero que o avanço das tecnologias e dos processos produtivos ajude a reduzir os custos de produção. Por outro lado, sei que uma verdadeira redução dos preços para o consumidor final só vai acontecer na medida em que a escala de produção aumentar. Resumindo: quanto mais gente se engajar na causa dos orgânicos, maior o consumo e menor o preço que pagaremos. É uma bola de neve que só tende a aumentar, pois a humanidade está descendo ladeira abaixo e clama por soluções viáveis.

Toda essa discussão ainda vai ganhar fôlego quando o consumidor se der conta de que a “marca orgânico” não está ligada apenas aos alimentos, mas também a outros produtos, como tecidos, perfumes, cosméticos… Mas isso já é assunto para outras reflexões!

Fabio Belik
Organis – Projetos Especiais

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