“Nos solos, os agrônomos e agricultores orgânicos estão cometendo o mesmo erro dos convencionais, aplicando altas doses de calcários para tentar “transformar” nossos solos ácidos tropicais em “solos europeus”.”

Faço a seguir algumas considerações sobre o equilíbrio entre acidez e alcalinidade para apreciação dos colegas Agrônomos, Agricultores e Nutricionistas, tendo em vista as generalizações pseudocientíficas que se divulgam atualmente.

Muito embora o pH celular e sanguíneo deva manter-se neutro ou ligeiramente básico, essa generalização do “ambiente alcalino” é mais um exemplo do reducionismo irracional que se propaga atualmente tanto na Nutrição como na Agronomia. Muitos órgãos, como os digestivos e genitais, devem manter acidez para evitar infecções bacterianas e fúngicas, como a candidíase, por exemplo. O mesmo se aplica aos solos, nos quais a alcalinidade favorece a proliferação de bactérias patogênicas – o que ocorre em solos calcários na Europa.

A acidez é especialmente importante nos solos tropicais, nos quais o pH relativamente baixo e o alumínio evitam a lixiviação (pelas altas precipitações e temperaturas) do fósforo que se mantém biológica e simbioticamente disponível, embora insolúvel em água e as atividades de fungos biodigestores mantém a saúde do solo pelo processamento da matéria orgânica e inibição alelopática e antibiótica de fitopatógenos e fitófagos como os nematóides e artrópodes.

Exemplos em ambos os casos são o efeito positivo da ingestão de suco de limão em jejum para auxiliar na alcalinidade sanguínea e celular, assim como contra gastrites, pois o organismo reage aos ácidos fracos como o cítrico e ascórbico, limitando e equilibrando a produção dos fortes ácidos digestivos.

Nos solos, os agrônomos e agricultores orgânicos estão cometendo o mesmo erro dos convencionais, aplicando altas doses de calcários para tentar “transformar” nossos solos ácidos tropicais em “solos europeus”, para possibilitar o uso de fosfatos solúveis. Além disso, estão usando predominantemente calcários dolomíticos, cuja alta proporção de magnésio causa antagonismo para a absorção de cálcio pelas plantas, que necessitam de uma razão mínima de 3 a 5:1 de CaO:MgO.

Todos os agricultores tropicais que cultivam oxissolos deveriam preocupar-se com a correção da fertilidade do solo e não do pH, iniciando esse processo pela Fosfatagem (com fosfatos naturais), complementada pela adubação orgânica (composto ou adubos verdes) e suplementada posteriormente pela proporção correta de cálcio e magnésio indicada pela análise prévia do solo, aplicando calcários adequados (calcítico, dolomítico ou magnesiano) ou mistura equilibrada destes.

Prof. Geraldo Deffune Gonçalves de Oliveira
Agroecologia Aplicada, Biodinâmica e Biossegurança, Coordenador de Estágios de Agronomia na UFFS – Universidade Federal da Fronteira Sul.
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